Apocalipse

01 Apocalypse - Sobral e Leão.mp3 (29850838)

02 Apocalypse Sobral e Leão 2.mp3 (29922562)

 

 

 

Os Quatros Seres Vivos do Trono

 

6 À frente do trono, havia como que um mar vítreo, semelhante ao cristal. No meio do trono e ao seu redor estavam quatro seres vivos, cheios de olhos pela frente e por trás. 7 O primeiro Ser vivo é semelhante a um leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em voo. 8 Os quatro Seres vivos têm cada um seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. E, dia e noite sem parar, proclamam: Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo poderoso, Aquele que era, Aquele que é e Aquele que vem. 9 E, a cada vez que os Seres vivos dão glória, honra e ação de graças Àquele que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos, 10 os vinte e quatro Anciãos se prostram diante daquele que está sentado no trono para adorarem aquele que vive pelos séculos dos séculos, depondo suas coroas diante do trono e proclamando: 11 “Digno és tu, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram criadas”.1

 

6 À frente do trono, havia como que um mar vítreo, semelhante ao cristal. No meio do trono e ao seu redor estavam quatro seres vivos, cheios de olhos pela frente e por trás.

havia como que um mar vítreo; a expressão como que nos dizendo que se trata de uma analogia, não era um mar, mas algo como.

Mar vítreo, isto é, de vidro. Pode significar uma faixa semelhante às nossas, isto é, de evolução ainda cogitável pela psicologia humana, mesmo que em várias dimensões, algumas muito superiores à nossa atual. O vidro quebra, ainda não é algo definitivo. Talvez simbolize este processo ainda necessário de transformação. Um mar vítreo, um campo amplo operacional.

Semelhante ao cristal; definindo já uma solidez, uma estrutura ordenada e regularidade que propiciam pureza e transparência. Temos aqui ainda uma ressonância com as pedras preciosas.

No meio do trono e ao seu redor estavam quatro seres vivos; estes seres vivos serão melhor detalhados nos versículos seguintes, todavia podemos aqui já tecermos algumas considerações.

Em primeiro lugar é preciso que fique claro que são muitas as possibilidades a que nos remete a simbologia apocalíptica, sendo assim, impossível levantarmos todas as hipóteses evocadas. Nossos despretensiosos comentários têm apenas o objetivo de sugerir alguns elementos a fim de tornar o estudo desta obra essencial mais claro e viável no que diz respeito à sua essencialidade reeducativa.

É importante analisarmos estes seres vivos em harmonia com seres semelhantes a animais narrados por Ezequiel no capítulo primeiro de seu livro. Há entre eles algumas dessemelhanças, todavia ao que nos parece o sentido é harmônico. Provavelmente, apesar da veracidade do fenômeno mediúnico em João, este tenha buscado no profeta pontos inspirativos no que diz respeito ao modo de se expressar. Não há nisto demérito para nenhum dos autores, apenas faz-se importante perceber na literatura apocalíptica incontestáveis semelhanças.

O “mar de vidro” estava à frente do Trono, estas figuras citadas, no meio e ao redor dele. Talvez significando que o primeiro seja o cenário ou o contexto evolutivo dos seres, até mesmo o processo. Nos seres viventes, teremos de alguma forma os personagens, que sem dúvida são os mais importantes.

O número quatro é também simbólico como tudo neste texto, nos dando assim uma ideia de totalidade, talvez num plano horizontal que represente necessidades evolutivas. São quatro os pontos cardeais e as estações do ano. É um número que está na equação do “doze”, que tem em si expressões de universalidade mais ampla.

Como dissemos estes seres vivos serão melhor detalhados, significando Espíritos que podem representar momentos significativos da própria evolução do Ser de um modo geral, povos formadores da humanidade, ou até mesmo Espíritos responsáveis pela governança de mundos físicos como viram alguns comentaristas.

cheios de olhos pela frente e por trás. Estes olhos nos dizem de uma capacidade mais profunda de enxergar, trata-se de uma visão que além de física é espiritual, sensibiliza-se pelo que há na intimidade do fenômeno. Olhos que capacitam a uma verdadeira ciência, a Ciência Universal que leva em conta os fatores dos dois planos da vida.

Aprendemos com os Espíritos Codificadores responsáveis por nos trazerem a Doutrina Espírita, que os Espíritos enxergam como um todo, não tendo assim um órgão específico que os faz sensíveis à luz2, daí a expressão de que estes olhos são pela frente e por trás fazendo-nos compreender: “eles veem pela alma como um todo”, o que proporciona uma Sabedoria integral e uma capacidade mais ampla de percepção.

7 O primeiro Ser vivo é semelhante a um leão; o segundo Ser vivo, a um touro; o terceiro tem a face como de homem; o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em voo.

O primeiro Ser vivo é semelhante a um leão; ser vivo, em grego temos zoon que é um termo geral para uma “criatura viva”, todos os seres viventes estão nele incluídos.

O médium percebe este ser, como também Ezequiel, semelhante a um leão, talvez expressando que o Espírito mesmo em níveis evoluídos têm em si, devido a sua história de progresso, componentes animais e humanos.

No leão temos o destaque de uma força física que o faz poderoso diante dos outros seres, ele usa desta força sempre que precisa. Podemos ver aí um dos aspectos do Poder de Deus e dos Espíritos Superiores que agem em consonância com Ele. Trata-se de um símbolo deste poder que em se tratando de seres criados e que já militam no plano da evolução consciente é sempre conquistado.

o segundo Ser vivo, a um touro; neste segundo ser João viu semelhanças a um touro; em algumas versões temos “bezerro” ou “novilho” o que expressa melhor o termo original que nos diz de um filhote. Talvez a opção do tradutor por touro neste caso seja para manter a harmonia com o texto hebraico de Ezequiel em que ele diz de boi ou touro.

Seja como for temos aqui o símbolo de sacrifício - o “boi” era um dos animais oferecidos nos rituais com esta finalidade -, de doação, de trabalho e também de paciência. Quatro - mais uma vez o número simbólico - qualidades necessárias para consumação do processo evolutivo que nos capacita a poderes espirituais.

o terceiro tem a face como de homem; como notamos em todos os animais percebemos algo de humano, Ezequiel diz que todos tinham forma semelhante à de homem. Aqui o evangelista se refere à face como de homem, também não era o homem propriamente dito, provavelmente querendo nos fazer entender que se tratava de componentes e processos por que passa o Espírito em sua jornada de crescimento.

No homem vemos alguns fatores de grande importância, é o elo entre a animalidade e a angelitude, nesta condição ele mostra seu passado, mas também seu destino glorioso em Cristo; podemos visualizar aí a proposta de crescimento consciente que só diz respeito a ele.

o quarto Ser vivo é semelhante a uma águia em voo. Neste passo faz-se importante analisarmos bem a analogia feita com este quarto ser. Não tratava-se simplesmente de uma águia, mas desta em voo. Nos seres anteriores não temos esta especificação, o que de algum modo define uma necessidade de elevação e um plano operacional voltado para o Alto. Vendo, assim, esta meta do Espírito em toda sua trajetória. Estamos aqui em baixo, circundados por feras que se expressam ora como leões, ora como touros, ou mesmo homens num momento maior de consciência, todavia a destinação é estar acima disso tudo, como um águia em voo. “Voo” este em que é destacado sua perícia, seu objetivo, sua capacidade aguçada de visualizar e de atingir o alvo com agilidade. Trata-se de um voo soberano e poderoso.

Vamos notar que as asas vão ser destaque nos próximos versículos, o que sugere sempre uma necessidade de voar acima do puramente humano.

Como dissemos anteriormente muitos outros valores simbólicos podemos ver neste sétimo versículo. A tradição cristã viu nestes quatro Seres, os quatro Evangelhos, sendo cada um a representação de um evangelista. Outros comentaristas têm feito aqui uma analogia com os quatro rios narrados no livro Gênesis3 e que nos remetem às quatro raças dos povos oriundos da estrela Capela, como aponta Emmanuel, na formação de algumas raças constitutivas de nossa humanidade.

Não conseguimos, no entanto, catalogar todas referências que podem surgir na interpretação deste Apocalipse, esta não é nossa preocupação maior. Nosso sincero objetivo é saber em que podemos nos apropriar deste texto simbólico, atual e de grande valor, para o nosso necessário processo reeducativo, ou seja, em que ele pode nos fazer melhor.

Desculpe nossos leitores se os frustramos e se repetimos em demasia, mas esta é a nossa necessidade fundamental, nos tornarmos “Homens de Bem”.

8 Os quatro Seres vivos têm cada um seis asas e são cheios de olhos ao redor e por dentro. E, dia e noite sem parar, proclamam: Santo, Santo, Santo, Senhor, Deus todo poderoso, Aquele que era, Aquele que é e Aquele que vem.

Os quatro Seres vivos têm cada um seis asas; a referência aqui é tirada de Isaías4. Este profeta cita as seis asas divididas duas a duas, cobrindo o rosto, os pés, e duas com que voavam. Nosso médium combinou as características dos Serafins de Isaías com o dos Seres de Ezequiel.

Não nos incomodemos com estas citações veterotestamentárias, neste Apocalipse setenta por cento de seus versículos fazem de alguma forma referência ao texto da Bíblia Hebraica. Não encontramos em nenhum texto da Nova Aliança outro que tem, segundo alguns comentaristas, tanta dependência literária em relação ao Antigo Testamento.

Podemos ver nestas asas até mesmo pelo seu número uma capacidade de um voo mais alto, um voo espiritual.

É uma simbologia complexa, pois o seis é justamente o número do homem, isto é, do humano de um modo geral. Talvez nos querendo mostrar que se dentro de nossos padrões evolutivos atuais usarmos de todos os recursos possíveis com vistas ao progresso, atingiremos um voo maior de fundamentação espiritual. É o seis nos abrindo a porta do “sete” que é uma nova fase de dimensões espirituais e ampliadas.

Adotando a sensibilidade expressiva de Isaías, podemos ver as duas asas do rosto significando nossa capacidade perceptiva, as do pé a movimentação, e as com que voava, instrumentos maiores de projeção do Espírito às alturas.

e são cheios de olhos ao redor e por dentro. Já comentamos expressão similar significando a capacidade visual do Espírito que não é localizada em um órgão apenas, ele vê como um todo. Olhos aos redor enxergando tudo à sua volta nos mínimos detalhes. Quanto mais ampla sua evolução mais enxerga, e por dentro, definido que esta capacidade vem de dentro para fora a partir das conquistas realizadas. “É o que sai da boca que contamina o homem” porque vem de dentro; mostrando-nos que o que vem de dentro é o que qualifica, pois do mesmo modo, esta própria Revelação nos diz: da boca do montador do cavalo branco5, saía uma espada afiada para com ela ferir as nações, expressões que ao seu tempo iremos comentar, mas que nos mostram claramente a palavra da verdade revelando Deus e sua Lei.

Podemos ver ainda nestes olhos que enxergam para além do natural, inteligência, vigilância e consciência, todas estas, qualidades a serem trabalhadas e ampliadas através da evolução espiritual.

E, dia e noite sem parar, proclamam; Deus não para, o Cristo também não:

Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.6

Do mesmo modo deve ser o Espírito, dia e noite sem parar deve realizar incessantemente. A seara é grande, mas os trabalhadores poucos7, daí a necessidade daqueles que já optaram por crescer de forma consciente, não parar de servir fazendo-se puro a ponto de refletir a Divindade em tudo que realiza.

É necessário compreendermos esta nossa necessidade de atuação no Bem, pois em nosso campo mental não paramos de trabalhar, pensamos o tempo todo, dia e noite, e sendo a “mente o espelho da alma em toda parte”, imperativo se faz ajustarmo-nos mentalmente às necessidades do Ser espiritual que somos.

Dia e noite expressando a completude das manifestações do tempo em cada ciclo; a dualidade presente em tudo. É preciso operar no dia – momentos em que o bem se faz presente naturalmente – e na noite das trevas por nós mesmos construídas e por isso tão difíceis de atuarmos. Mas daí nossa maior necessidade de nos fazermos úteis.

É mais fácil para nós sermos produtivos quando situados na zona de conforto e na segurança, porém são nos momentos de conflito, de dificuldades no campo da emoção, nas reações do dia a dia, que devemos nos fazer cristãos, isto é, imitadores de Cristo.

proclamam...; devemos entender esta atitude aqui como o ato de dizendo afirmar Deus num sentido público, ou seja, mostrarmos e ensinarmos Ele a outras pessoas através de nossas atitudes. Não tem sentido ser de outro modo, o Criador não precisa de nossa adoração, nós é que temos necessidade íntima dela daí a urgência de O interiorizarmos vivendo-O.

Esta é a proclamação que se faz necessária a todos nós, de dia através de nossa atuação consciente, e de noite, até mesmo nos sonhos quando dormimos que são, como alguns estudiosos têm mostrado, a projeção de nossas realizações na vigília.

Santo, Santo, Santo; mais uma vez a expressão vem de Isaías8. Era comum neste profeta o destaque da santidade de Deus.

Esta abordagem implica em nossa necessidade pessoal de santificação, esta é a proposta de toda Bíblia com objetivos de redenção para o Espírito o que significa sua recomposição íntima e volta ao Criador. Não há como nos integrarmos em Deus a não ser pela perfeição possível de atingir o que em outras palavras expressa a mesma santificação.

Este triságio tornou-se comum na liturgia cristã, é para nós o símbolo da conquista desta mesma santificação em três níveis. Santo ao entrarmos em sintonia com o Alto e receber dele a intuição e a orientação; Santo ao operacionalizarmos esta orientação no nível possível de atuação; e Santo ao retornarmos ao Alto numa faixa acima da anterior com a conquista realizada, e prontos para edificação de outras que se fazem necessárias no processo evolucional.

Senhor, Deus todo poderoso, Aquele que era, Aquele que é e Aquele que vem. Vejamos que o Deus Santo se transformou em Senhor… Todo Poderoso. Indicando não uma necessidade do Criador, pois o próprio versículo revela sua imutabilidade; mas um crescimento nosso que nos leva a compreender a partir de cada progresso realizado, Deus de uma forma mais sutil e presente em nossas cogitações.

Quando elevamos Deus da condição de Santo, que Ele, diga-se de passagem, não vai deixar de ser jamais, para a de Senhor em nossas vidas, ou seja, quando passamos a seguir Suas orientações expressas nas Leis Naturais, compreendemos ainda mais este poderoso e passamos a agir na mesma faixa Dele herdando também este “poder” em nossas realizações mais nobres.

A expressão seguinte do versículo define, como já comentamos, a imutabilidade de Deus. Ele era, é e vem sempre o mesmo, todavia, a sutileza de nosso processo de crescimento nos leva a entendê-Lo de formas diversas. Ele era para nós um, é hoje outro, e virá no futuro, a ser outro ainda mais diverso. É neste sentido que devemos compreender Jesus quando ele nos diz “Meu pai”, “vosso Pai” e “Pai nosso”; ou seja, são três formas distintas de compreender o Criador.

“Meu Pai” era o Deus da compreensão do Cristo, ainda inacessível à nossa psicologia atual; “vosso Pai” era Ele nos falando de Deus na mentalidade de cada um de nós, trata-se de um conceito em evolução; e “Pai Nosso” é Ele se adequando a nós nos fazendo compreender que apesar da diversidade estamos todos no mesmo processo e filhos do mesmo Pai e com o mesmo destino glorioso.

9 E, a cada vez que os Seres vivos dão glória, honra e ação de graças Àquele que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos…

Este versículo em sequência com os próximos define uma situação de harmonia em que vemos expresso através da continuidade das vibrações elevadas um evento se desenvolvendo nas esferas de mais pura espiritualidade.

E, a cada vez que os Seres vivos dão glória, honra e ação de graças; isto é, a cada vez que nos integramos ao processo da vida de nos fazer crescer entramos no padrão superior de Deus e dos seres a Ele ajustados.

Isto se dá sempre que nos colocamos em nosso devido lugar como seres criados por Ele e destinados a realizações no campo do espírito e que O vemos em seu devido lugar de Criador de todas as coisas inclusive da Lei Perfeita que rege os nossos destinos. Daí, compreender o andamento da vida como ela se apresenta, e estarmos afinados com todo este processo, é, de nossa parte dar glória a Deus e nos posicionar na condição de seres vivos conscientes, o que deve ser nossa busca ampla.

Cada vez que damos glória é importante para a economia universal; uma mínima atitude de alguém pode significar muito para o encaminhamento de Espíritos a Deus. Um sorriso, um agradecimento, uma atitude de compreensão, um perdão, se devidamente ajustados ao Plano de Deus podem abrir as portas do Céu para quem recebe e também para quem doa. Não nos é possível avaliar as imensas possibilidades que se abrem a partir de uma ação nobre. Estejamos atentos a isto, e procuremos fazer parte desta cadeia universal do Bem.

Glória, honra e ação de graças; é a comunhão expressa em três níveis.

Glória – exaltação; alegria. Não há como exaltar sem alegria íntima.

Honra – respeito; fidelidade. Honra-se através de atitudes.

Ação de graças – trata-se de uma compreensão positiva a ponto de estarmos inteiros no encaminhamento evolutivo e sermos agradecidos. É o reconhecimento que o objetivo principal está sendo atingido. Não nos importa se o processo está sendo doloroso; a libertação final será alcançada, pois o desenvolvimento das conquistas estão em níveis satisfatórios.

Àquele que está sentado no trono e que vive pelos séculos dos séculos…; Àquele, trata-se de Deus.

Que está sentado no trono, frase já comentada referindo-se à posição de autoridade, segurança, fundamentação. Tudo isto dá o poder que está subtendido por estar no trono.

Que vive pelos séculos dos séculos. Trata-se de uma expressão cujo significado é “eternidade”. O poder de Deus é Eterno, isto é, para sempre. É preciso compreender aqui uma situação onde o tempo não impera, por isto jamais se acaba, é um eterno presente. Não é um tempo longo, mas ausência dele.

É importante esta colocação dentro do contexto em que vivia a Comunidade de Jesus nesta época.

Ela sofria aflições terríveis; era obrigada a adorar o imperador como se fosse um deus. Por não aceitar tal imposição era perseguida sob a acusação de ateísmo, pois não aderia à ideia da divindade do soberano romano.

No plano imediato este texto era um consolo, pois o autor dizia para perseverarem na fé e adorarem o único Deus que reconheceria tal fidelidade para além do tempo. Tratava-se de estar ajustado ao Governante Supremo que reina pelos séculos dos séculos.

As perseguições de Domiciano não existem mais, entretanto o texto não perdeu seu vigor e atualidade.

O reino do mundo através de vários soberanos ainda impera e pede nossa adoração. Imperadores como, dinheiro, sexo, poder, e até mesmo alguns que podem ter um sentido também positivo como estética e informação, nos escravizam a ponto de desviar nosso coração para os interesses transitórios e nos fazer cultuar situações que se perderão mais cedo ou mais tarde.

Deste modo, ainda é válido o alerta do “homem de Patmos” para que ajustemos nosso campo mental na busca dos valores imperecíveis que irão reinar para Todo Sempre.

10 Os vinte e quatro Anciãos se prostram diante daquele que está sentado no trono para adorarem aquele que vive pelos séculos dos séculos, depondo suas coroas diante do trono e proclamando…

Os vinte e quatro Anciãos se prostram diante daquele que está sentado no trono para adorarem aquele que vive pelos séculos dos séculos; os eventos se desenvolvem numa sequência harmônica. Quando os “seres vivos”, o que pode ser a representação de todos nós, se adéquam e integram aos projetos do Criador, os vinte quatro anciãos, que aqui simbolizam entidades já soberanas em plena comunhão com o Eterno, em ação continuada dão sequência à glória a Deus.

Tal comportamento define para nós a perfeita conexão destes Espíritos com a Vida Celestial; em nosso meio, quando alguém atinge uma situação de poder e capacitação é raro que este glorifique Deus, na maior parte das vezes tais prerrogativas o afastam ainda mais de Seu Criador. Não é o que se dá, por exemplo, com a maioria dos governantes do poder temporal?

A mensagem evangélica é clara, todo Poder pertence a Deus, toda Glória a Ele deve ser dada. Não em forma de mitificação, mas como uma adesão plena aos Seus desígnios e o reconhecimento de que somos apenas parte de um mecanismo em que Ele é a Alma.

O verbo “prostrar” em seu sentido original quer dizer “descer de um lugar mais alto para um mais baixo”.

Trata-se de uma atitude de humildade e de reconhecimento da grandeza de Deus. Por maior que seja o Espírito em qualidades e perfeição, diminuto é ele em relação ao seu Criador. Humildade é o reconhecimento desta nossa pequenez diante do Altíssimo.

Estes vinte e quatro anciãos eram o que havia de mais alto na corte celestial, entretanto, eles desciam de “sua grandeza” para adorarem Aquele que É ainda maior.

Temos aprendido que quanto mais evoluído é o Espírito maior é a sua facilidade em ter atitudes neste nível. Se ainda temos dificuldades em descer de nossas posições, pensemos sobre isto, está nos faltando evolução e discernimento espiritual.

depondo suas coroas diante do trono e proclamando; A coroa é outorga de poder. Quem a possui passou por um processo e adquiriu esta condição. Estes anciões tinham, desta forma, poder, e poder espiritual que é imperecível, estavam também assentados em seus tronos como vimos anteriormente.

Entretanto, depõem suas coroas diante do trono ainda maior, o do Criador, O reconhecendo Supremo. Eles tinham consciência de que por mais que pudessem, seu poder tinha ainda limitações. Era concedido por Aquele que realmente tudo pode.

Temos aí, como já comentado uma atitude rara em nosso meio, que é usar o próprio poder para reconhecer alguém maior e obedecer aos imperativos da Vida e à sua hierarquia.

Todos nós temos “coroas” que são os poderes espirituais conquistados, uns mais outros menos de acordo com a opção feita através do processo evolutivo. É importante aprendermos aqui que estas conquistas devem ser usadas em favor do Bem e colocadas a serviço de Deus.

Vemos ainda nesta atitude dos anciãos importante realização. Tudo o que detemos é outorgado pelo Pai com uma finalidade educativa nossa e como extensão de nossos irmãos em humanidade.

Ao depor as coroas diante de Deus é como se eles devolvessem o processo a Ele com a parcela que lhes cabia cumprida e aguardando novas designações. Trata-se de um ato amplo de desvinculação, o que para nós é extremamente difícil devido aos apegos que ainda temos.

Em grande parte dos processos a nós confiados criamos uma dependência em relação a eles e as pessoas envolvidas, como se elas fossem nossas. Quando se finda uma etapa há a necessidade de iniciar outras e não podemos ficar excessivamente afeiçoados à anterior.

Tudo isto está em foco nesta conduta de depor as coroas diante do Pai. Até mesmo a atitude daquele orientador que quando percebe que o Espírito sob sua tutela está pronto o entrega a Deus para que Ele eleja outros que darão continuidade ao processo educativo, até que o educando chegue também à condição de educador e possa ajudar outros num mecanismo continuado de trabalho a serviço Daquele que está assentado no trono pelos séculos dos séculos.

11 “Digno és tu, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas; por tua vontade elas não existiam e foram criadas”.

Digno és tu, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder; trata-se do fim de uma etapa cumprida com sucesso e conquistas espirituais. É quando realizamos nosso trabalho, mas entendemos que a obra não é nossa.

Acontece com o marido que após uma convivência harmoniosa e de carinho com a esposa, quando desencarna, entende a necessidade dela de um segundo casamento e a compreende…

Com o pai ou a mãe que tendo educado uma filha ou filho o entrega ao matrimônio para a constituição de uma nova família.

Dar honra e glória a Deus é reconhecer o Eterno poder Dele e saber que tudo que realizamos é a serviço Seu na construção de um mundo ainda melhor.

As pessoas não são coisas, a elas nos afeiçoamos e isto é muito bom; todavia é preciso compreender que elas são também “filhas do homem” com vida própria e necessidades pessoais para se fazerem “Filhas de Deus”.

pois tu criaste todas as coisas; Deus é o Criador de todas as coisas, tudo existe por vontade Dele, elas não existiam e foram criadas.

Desta forma Ele é o único digno de ser Senhor e Deus nosso.

Como dissemos anteriormente em nosso processo de crescimento nos são emprestadas várias coisas para que usufrutuamos positivamente e a devolvamos quando não mais precisarmos. Como aquele livro que pegamos emprestado na biblioteca para realizar uma pesquisa. Após assim fazermos o devolvemos com alegria.

Acontece que na vida gostamos tanto daquilo que Deus nos empresta que queremos fazer destas posses temporárias, permanentes. Vivemos a vida física como se ela fosse eterna e investimos tudo nela.

Elegemos vários “deuses e senhores”, isto quando não insistimos por sermos nós mesmos o deus e senhor de alguém.

O versículo é claro só o Criador de todas as coisas é digno de receber de modo finalístico a glória, a honra e o poder. Devemos honrar e respeitar todas as pessoas, filhas de Deus que são, entretanto, dando a cada uma a limitação da importância que tem no processo amplo da vida.

Não mitificar, não criar ídolos, não nos tornarmos dependentes de coisas perecíveis, estes os desafios pelos quais todos passamos.

Por melhor e maior que alguém nos pareça por ser o construtor de uma obra quase perfeita, lembremos, tudo que este fez foi a partir de algo já criado, só Deus tem condição de transformar essência em existência, de fazer existir e criar por Sua Vontade.

Deste modo, quando alguém ou alguma coisa se tornar para nós muito grande a ponto de uma valorização e afeições excessivas, lembremos disto:

Só o Criador de todas as coisas é Senhor e Deus nosso e digno de receber a glória, a honra e o poder…

 

 

 

1 Apocalipse, 4: 1 a 11

2 (KARDEC, O Livro dos Espíritos. 50ª ed. 1980); Qs 245 a 249

3 Gênesis, 2: 10 em diante.

4 Isaías, 6: 2

5 Apocalipse, 19: 11 a 15

6 João, 5: 17

7 Lucas, 10: 2

8 Isaías, 6: 3