Capítulo 1: 9 a 20

 

 

Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo. 10 Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, 11 que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia. 12 E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; 13 e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro. 14 E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo; 15 e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz de muitas águas. 16 E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. 17 E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último 18 e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno. 19 Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer: 20 O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.13

Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e na paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo.

João escreveu o Apocalipse num momento de grande dificuldade da igreja cristã nascente, ela estava sendo altamente perseguida pelo império romano.

Alguns estudiosos tentam situar este momento histórico no governo de Nero, no final da década de 60 do primeiro século, mas o mais provável é que tenha sido durante o governo do imperador Domiciano por volta do ano 95 de nossa era.

Foram dois períodos de grande turbulência e sacrifícios para os Cristãos, mas parece-nos que a datação mais próxima do final do século é a mais correta.

Ao usar a expressão vosso irmão, dirigindo às igrejas, ele está dizendo do caráter universal da revelação o que é característico da essência da mensagem cristã, pois Deus é Pai de todos inclusive de Jesus nosso Irmão Maior.

Depois temos uma bela colocação por parte do apóstolo: companheiro na aflição, o que caracteriza o seu profundo entendimento da mensagem, pois o a Boa Nova do Cristo define que serão considerados participantes do Reino, não os que tiverem conhecimento intelectual, nem os que forem detentores de poder temporal, e nem mesmo os que tiverem amigos próximos de Deus, mas sim os que fossem trabalhados no campo íntimo com expressões de amor e de um sentimento renovado no Bem.

Companheiro de aflição define uma participação naquele processo de luta e nos desafios comuns aos adeptos da Nova Revelação, era sofrer junto, sorrir e chorar, ser um igual, irmão de todos.

Paciência de Jesus-Cristo; temos aprendido ser a paciência a Ciência da Paz, e que esta só é alcançada com a “eficiência da pá” que é um instrumento que sugere trabalho contínuo para produzir virtude.

A paciência é fruto de amadurecimento espiritual, de conquista do Espírito no campo da moral; o paciente é um pacificador, pois promotor da paz. Paciência de Jesus-Cristo é a somatória de todas estas virtudes formalizadas pelo testemunho pessoal da criatura na experiência reeducativa, não é só sacrifício, mas produção de valores que dignificam e tornam os seres melhores.

João estava na ilha chamada Patmos, que quer dizer “meu destruidor”. Patmos se localizava no Mar Egeu, na Ásia Menor. A mensagem do Apocalipse é a da vitória do bem sobre o mal que se consubstancia na volta de Jesus. Jesus nasce quando Maria, sua mãe, se faz “serva do Senhor”, apagando-se, para Ele vir ao mundo. A mensagem de sua volta se dá justamente numa ilha que significa “meu destruidor” mostrando-nos a necessidade da desativação de nosso caráter pessoal, personalismo. Só através desta descaracterização do apóstolo no campo pessoal através do testemunho autêntico é que a Revelação pôde vir, o mesmo se dará no campo íntimo de cada um. Lembramos ainda que a autoria pessoal de João para o Apocalipse não é unanimidade, podendo, inclusive esta autoria “incerta” nos sugerir justamente isto, ser preciso que Ele, Cristo, cresça, e que o eu, personalismo, diminua.

por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo; a palavra de Deus é expressão da Lei de Deus. O autor de Hebreus diz que ela é:

viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.14

Ela penetra, transforma, educa aquele que a recebe e a compreende segundo as disposições do espírito. Entretanto, aquele que ainda não se despertou para a necessidade reeducativa do Ser que sobrevive ao trespasse físico, ou para aquele que insiste em perder suas possibilidades por aprisioná-la na letra que mata, ela incomoda a ponto de, através da violência tentar aniquilar todos aqueles que dela usam como instrumento de promoção espiritual.

Estes, os que vivem pelo testemunho de Jesus-Cristo, são, como João foi, expulsos pelos interesses do mundo, exilados do contexto por incomodarem o poder transitório. A palavra de Deus é o que da a motivação para o plano aplicativo que se faz representar pelo testemunho de Jesus-Cristo.

Por ela discernir os pensamentos e intenções do coração, afere com verdade aquele que a recebe ou a rechaça, tendo, todavia, no desenrolar dos tempos, uma posição sempre positiva de ajuste do Ser aos Desígnios do Eterno; por ser a verdade que liberta através da suavidade do amor realizado ou da dor saneadora das enfermidades do sentimento.

10 Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta,

Eu fui arrebatado em espírito; podemos ver aí a atuação mediúnica. João foi arrebatado, isto é, foi projetado a uma situação, a um lugar, na dimensão espiritual.

Acontece o mesmo com muitos médiuns, seja numa reunião mediúnica ou mesmo fora dela. É o que comumente se chama de “desdobramento”; alguns estudiosos não espíritas têm nominado como “projeção da consciência”. Este vai ser o modo de ação do médium revelador do Apocalipse, ele se desdobra, vê, e narra o que foi a ele mostrado.

Fora do campo mediúnico, e mesmo até nesta área de atuação, podemos ver aí, neste arrebatamento, a necessidade de nos desvincularmos das situações corriqueiras, dos interesses em que estamos imersos, se quisermos receber uma revelação espiritual de maior alcance. Entendendo assim, também, a necessidade de nos projetarmos além dos interesses puramente transitórios para efetivarmos nossa evolução espiritual.

João se capacitou a receber o Apocalipse no final de sua vida física. Alguns fatores colaboraram para isto. Seu amadurecimento espiritual pelo trabalho incessante na área do Evangelho e no atendimento aos necessitados; os sofrimentos naturais por que passou fortaleceram-no espiritualmente, deram a ele embasamento moral; sua fraqueza física, seja pela idade, seja pelos sacrifícios que teve de fazer, se desvinculando do comodismo e do imediatismo humano, também o auxiliaram neste processo de desligamento do mundo da ilusão para uma efetiva penetração no mundo da realidade.

São lições valiosas para todos nós que almejamos uma maior projeção na vida espiritual. Os desafios, as dores, os limites, e as contrariedades, são situações de bastante incômodo, mas na realidade realizam importante tarefa em nossa contabilidade íntima, nos preparam para estarmos em melhor forma no dia do Senhor.

No dia do Senhor; historicamente os estudiosos situam este dia como sendo o domingo, o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição de Jesus. Dia este que à maneira judaica de contar iniciava no sábado à noite.

No Judaísmo era o “dia de IHWH”, o dia do julgamento. No entendimento dos primeiros cristãos era o dia da volta de Jesus. Irineu, escritor cristão do segundo século, menciona uma tradição da igreja de que o Messias retornaria durante a Páscoa, e que o dia do Senhor não se refere ao domingo, mas ao primeiro dia da Páscoa15.

No campo íntimo é aquele momento de ajuste ao Plano do Criador, é nossa assimilação e adequação ao pensamento superior. Dissemos anteriormente, é entrar no “tempo de Deus”.

Neste instante é que nos é outorgada a capacidade da revelação, que literalmente é “tirar o véu”; desvendar algo desconhecido, uma nova realidade, por exemplo.

e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta; a trombeta, “shophar”, era um instrumento feito habitualmente de chifre de carneiro ou de boi; vamos ter também trombetas de prata que serviam só aos sacerdotes. Emitiam um som muito forte capaz de fazer a criatura despertar.

Aqui o que importa é a intensidade do som ouvido e que tinha justamente este objetivo despertar o médium para o que era visto. É bom lembrarmos que muitas vezes vemos algo, mas não nos despertamos para a realidade; quando a audição é sensibilizada este despertamento se faz mais fácil.

É habitual para nos falar do despertamento espiritual a expressão, “tocar a acústica da alma”.

A codificação espírita que é uma grande revelação espiritual foi antecedida por pancadas que, através de barulhos estranhos, despertaram a população para novos fatos de grande poder revelador.

Esta trombeta representa para nós a possibilidade deste despertamento que soa como um grito em nossa consciência chamando-nos a uma nova realidade.

Neste passo é importante percebermos que ele não ouviu um som de trombeta, mas uma grande voz, a trombeta é usada só como comparação para expressar a intensidade com que a voz lhe falava.

No plano em que vivemos a voz tem um poder mais objetivo de comunicação, o que define que ele ouviu num plano mais concreto, a voz dizia algo que ele compreendia. A revelação só tem objetivo se ela se adequar ao plano mental daqueles que vão recebê-la, se não for assim, não haverá entendimento e ela perde a função.

Como era uma revelação vinda da Esfera de Deus e de Seu Cristo, ela não era falha, era adequada, vinha através de uma grande voz que o revelador ouviu detrás, e não de frente. Por quê?

Detrás é no lado oposto à nossa frente. Sendo a frente o sinalizador de nossos interesses, pois é para onde estamos voltados, a Mensagem do Cristo vem detrás, pois vem contrariando os interesses comuns do mundo, vem numa dimensão a que não estamos habituados. Por isso o som como que de uma trombeta, para despertar a criatura e ela voltar-se com determinação dando a frente para o Cristo e as costas para o mundo.

11 que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.

que dizia: O que vês, escreve-o num livro; o que vês, a voz lhe chama a atenção para a necessidade de aguçar sua visão, ou seja, tornar seu olhar capacitado a ver o que é sutil. Dissemos que a audição apropria os nossos sentidos de forma mais imediata, mas para estarmos preparados para o Reino do Senhor é preciso que estejamos com estes sentidos mais perceptivos, é preciso “ver”, saber ver e discernir, e o que vermos divulgar com o objetivo de ensinar, de promover o Bem.

Escreve-o num livro; interessante aqui ser destacado o livro, por que não disse o Senhor, simplesmente, escreve? Ou, escreve num pergaminho? A resposta está em Isaías:

Vai, pois, agora, escreve isto em uma tábua perante eles e aponta-o em um livro; para que fique escrito para o tempo vindouro, para sempre e perpetuamente.16

Ou seja, era uma Revelação de peso, que seria importante em todos os tempos da humanidade, por isso precisava ficar registrada de forma completa e para sempre.

Além disto, era uma Revelação ampla que não poderia ser analisada por um trecho apenas, tratava-se de um conjunto de informações e que deveria ser estudada como um todo; por isso teria que ficar registrada num livro.

e envia- o às sete igrejas que estão na Ásia; o livro tinha uma objetivo, assim, deveria ser enviado ao seu publico alvo. Não podemos guardar aquilo que nos é revelado, temos que dar divulgação ao que é bom. É muito comum em nosso meio comprarmos um bom livro, lermos, guardarmos em nossa biblioteca e deixá-lo lá quietinho.

Se for bom, é dever do Cristão enviá-lo a quem possa ser por ele ajudado, emprestarmo-lo, ou mesmo doá-lo se for o caso.

Às sete igrejas que estão na Ásia; já analisamos a mesma expressão quando comentamos o quarto versículo deste mesmo capítulo.

Elas podem ter vários significados no plano histórico, geográfico, religioso, e no campo pessoal.

Toda nossa evolução se dá num plano setenário, que são ciclos que envolvem sempre uma equação de “sete”.

Vamos ter a oportunidade de no decorrer deste texto explanar mais sobre o assunto apesar de nossas limitações.

Aqui devemos entendê-las em seu sentido de unidade, de universalidade, mas também de diversidade, pois cada uma, como cada um de nós se acha numa fase evolutiva e tem as suas peculiaridades.

Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia; estas são as “sete igrejas” a quem a Revelação é dirigida.

Vamos tentar trabalhá-las como componentes do movimento cristão de um modo geral; ou facetas de nossa própria personalidade. O objetivo do Evangelho é reeducativo, e reeducação como sabemos é algo que deve ser feito individualmente, no plano íntimo de cada um, pois educar do ponto de vista espiritual não é tarefa que pode ser feita em massa.

No segundo e terceiro capítulo do Apocalipse vamos ter o conteúdo das observações direcionadas a cada igreja, razão porque vamos deixar para quando estivermos analisando estes capítulos maiores comentários a respeito de cada uma individualmente e sobre as consequências morais que podem despertar em cada um de nós.

12 E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro;

E virei-me para ver quem falava comigo; foi dito anteriormente que a voz se fez ouvir detrás do médium; comentamos sobre isto, que trata-se da manifestação do Cristo em nossa vida no sentido inverso ao que é proposto pelo mundo.

João, como servo do Senhor, vivia uma vida voltada para as questões do Evangelho, seus interesses eram espirituais; mas aqui temos de ver a simbologia. Ele como elemento encarnado representa a humanidade que vive uma vida na ilusão do que pode ser visto pelos olhos.

Ao “virar-se”, ele demonstra interesse, ele volta a frente para ver quem falava com ele.

Ele ouvia, para ouvir não era preciso virar, portanto, não bastava apenas ouvir a mensagem, era preciso ver de quem ela partia, verificar qual a sua origem, o que nos sugere discernimento.

O Apocalipse nos ensina a discernir, o próprio autor encarnado deste texto já nos dissera:

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus17

Portanto, era preciso ver quem falava, de quem era aquela voz tão significativa; e ainda hoje ver quem fala. Se a mensagem vem da Esfera do Cristo, estejamos atentos, vivenciá-la é questão de bom senso, obra do homem prudente.

E a misericórdia divina é pródiga em nossa vida, se manifesta através das palavras de um pai, de um amigo, de um livro edificante, de um líder religioso…

Aprendamos com a Revelação, é preciso “virar-se” para quem tem para nós propostas reeducativas.

E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; e virando-me, atitude obediente à consciência esclarecida.

Faz-se preciso não só conhecer a verdade, mas obedecê-la. Quantas vezes mesmo sabendo em nossa vida qual o melhor caminho seguimos por outro?

O Apocalipse é altamente simbólico, desvendar estes símbolos é o desafio de todos os que se propõem a estudar esta revelação. De nossa parte não temos a pretensão de compreender todos, pois não há em nós condições para tal. Retirar do texto uma proposta edificante para nossa vida, ou seja, aplicar a mensagem em nosso dia a dia é o objetivo maior. Mas para isso é preciso ir trabalhando estes símbolos e ver neles o que eles podem nos acrescentar em matéria de transformação moral.

A partir do quarto capítulo estes símbolos vão aumentar e exigir mais de nossa capacidade interpretativa, aqui, é apenas uma prefiguração do que vai acontecer mais adiante.

Sobre os sete castiçais de ouro, o próprio texto, no último versículo deste capítulo, nos esclarece: “são as sete igrejas”

Vamos comentar mais no desenvolvimento do texto, mas podemos ver neste castiçal, que é um suporte onde se coloca uma vela com o objetivo de iluminar, não apenas as igrejas; sim, toda comunidade que se reúne em torno de um princípio moral é um castiçal, todavia, nós também temos, individualmente, de sermos um castiçal através do qual a luz divina possa se irradiar.

Não é pretensão nenhuma de nossa parte dizer desta forma. O objetivo da luz é encerrar com a treva, e qual de nós diante de uma grande escuridão ainda não se serviu de um simples palito de fósforo para iluminar em volta? Portanto, qualquer um de nós tem esta prerrogativa. Não são palavras do próprio mestre que resplandecêssemos a nossa luz diante dos homens?18

O Evangelho por si só tem esta missão, iluminar as almas. Se o Antigo Testamento é uma grande trombeta a anunciar a existência de Deus e de Sua Lei, o Novo é a voz suave e doce que diz da necessidade de através do combustível da fé operacionalizada fazermos luz em favor de todos.

13 …e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro.

e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do Homem; num plano mais coletivo vimos que os sete castiçais representam as igrejas, o sete pode dar a ideia que é a totalidade delas. Entendamos por igreja não a instituição religiosa em si, mas qualquer comunidade reunida a serviço do Cristo, independente de a que escola esteja ligada. Trata-se de um grupamento que, no plano físico, possa fazer manifestar o Pensamento Divino.

Importa ver que são sete igrejas onde não há destaque de nenhuma, todas têm o seu papel e devem ser respeitadas igualmente; o mais importante é que todas sejam fontes irradiadoras de luz.

A expressão seguinte, um semelhante ao Filho do homem, nos remete ao Cristo.

Filho do homem foi um dos títulos que Jesus usou para si mesmo. Etimologicamente, no contexto hebraico, esta palavra quer dizer simplesmente “ser humano”, ou “homem”. Todavia, em se referindo a Jesus, esta expressão tem um sentido diverso, ela quer dizer de um Ser que ultrapassa a condição humana; um Messias é o melhor entendimento.

O texto deixa uma dúvida, pois o médium relata que viu um semelhante, e não o próprio Filho do homem. Todavia a alusão é clara, evoca o Cristo.

Como dissemos, a linguagem apocalíptica é altamente simbólica, temos que ir aos poucos desvendando estes símbolos. O que mais importa aqui é que os castiçais, fontes irradiadoras de luz, estão sofrendo, por sua vez, irradiação direta do Messias, estão a Ele conectados, estão em plena harmonia. Harmonia esta que é de tal forma que o Cristo está no meio deles, é um deles.

Talvez esteja aí o segredo da expressão “semelhante ao Filho do homem”. É que num plano mais elevado de irradiação, não é o título que mais importa, mas estar na mesma frequência, na Alta Frequência de Deus. Pois como nos orienta o Espírito São Luis em mensagem publicada na Revista Espírita em fevereiro de 186819, não devemos dar importância se aqui é à personalidade de Jesus de Nazaré que esta expressão se refere, o que importa é que este Espírito está animado do mesmo pensamento superior.

Se quisermos, individualmente, ou coletivamente [nossa comunidade cristã], estarmos cumprindo bem o nosso papel irradiador de luz, produzindo valores de ordens reeducativas, é preciso estarmos na frequência do Cristo, esta é a essência do versículo.

vestido até aos pés de uma veste comprida; vamos ter a partir daqui e nos próximos versículos citações a respeito de algumas funções messiânicas, têm elas suporte na literatura veterotestamentária.

A veste comprida define a sua função sacerdotal, referindo-se a uma ampla conexão com Deus.

cingido pelo peito com um cinto de ouro. O cinto de ouro nos diz da realeza do Messias, o ouro era um metal nobre, o cinto de ouro era uma das insígnias dos reis. Porém vemos que aqui não se trata de um poder temporal apenas, pois o cinto cingido pelo peito diz de uma realeza fundamentada também pelo sentimento, que por estar associado à razão dá plena autoridade, uma capacidade de refletir com maior fidelidade o sentimento divino.

14 E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo;

E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve; continuando a abordagem do versículo anterior, temos a cabeça como símbolo da razão, é onde está situado o cérebro que é um veículo da mente, e como consequência do Espírito.

Então, o Messias terá associado ao sentimento a razão.

Os cabelos brancos dão a ideia de um amadurecimento que produz sabedoria, como expressão de uma vivência. O branco como somatório de todas as cores permite-nos fazer uma analogia com a capacidade de síntese que têm os Grandes Espíritos, reunindo em torno de si doutrinas antigas e novas numa só coloração. Esta é bem uma das características da Doutrina do Espírito de Verdade.

Devemos notar que é um branco como lã branca, como a neve, dizendo de uma branco total, onde esta síntese das cores se manifesta de forma plena, não lhe faltando nenhuma. A reportando-nos ao testemunho do cordeiro, fruto de seu sacrifício. É uma experiência positiva no campo do aprendizado, uma atitude de doação, de generosidade.

e os olhos, como chama de fogo; esta é uma expressão que se repetirá ao longo do texto; no décimo nono capítulo teremos um cavalo branco em que seu montador têm os olhos como chama de fogo.

Os olhos nos levam a pensar em sua capacidade de visualização, são instrumentos de percepção. Aqui trata-se de uma alta percepção, são olhos que sondam “as mentes e os corações” com uma ciência divina. É. Portanto, muito mais do que os órgãos físicos possam perceber, são olhos dos “limpos de coração” que são os capacitados para verem a Deus20.

Estes olhos do Messias têm além de sua capacidade reveladora a faculdade de queimar as nossas impurezas espirituais, pois ao entrarmos em contato diretamente com eles, não há como não fazermos imediatamente uma introspecção dentro de uma proposta positiva de autoconhecimento, e assim, conhecendo-nos melhor, realizar as transformações morais necessárias. Funcionam deste modo, como sendo os olhos de nossa própria consciência que queimando nos projeta ao arrependimento como primeiro passo para a iluminação desejada.

15 e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz de muitas águas.

e os seus pés, semelhantes a latão reluzente; os pés são os membros que dão segurança à criatura. Podem também significar piso, edificação.

Temos assim, a estabilidade fundamentada na Rocha do Evangelho que é uma representação do próprio Cristo21.

Estes pés do Filho do homem, que é o Ser que todos deveremos ser um dia depurados pelo processo evolucional, são, segundo nossa versão, semelhantes a latão reluzente.

Em grego temos, chalkolibanon, que significa um metal altamente refinado ou liga de identidade incerta, bronze provavelmente polido, bronze dos bons. Alguns dicionários dizem de algum metal como ouro, se não mais precioso22.

Portanto, trata-se de uma estabilidade máxima alcançada pela vivência fundamentada e alicerçada na Lei de Deus.

É importante aqui ver a magnitude e a pureza deste Filho do homem, em quem brilham os olhos e os pés, em que há alta potência da voz, tudo manifestando sua ampla conexão com o Eterno Criador de Todas as Coisas.

como se tivesse sido refinado numa fornalha; a expressão quer dizer de algo queimado, purificado, num forno.

O que podemos entender como nossa estabilidade moral sendo depurada nas experiências vividas em várias encarnações. Experiências estas que muitas vezes funcionam mesmo como uma fornalha onde nossas sujidades são purgadas visando atingirmos um estado tal de pureza em que possamos refletir com grande fidelidade a Luz que vem do Criador.

É provável que o autor do Apocalipse, conhecedor que era das Escrituras hebraicas, se lembrasse de Isaías:

Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição.23

e a sua voz, como a voz de muitas águas; há na literatura bíblica a ideia desta voz messiânica, que no fundo é a voz que grita em nossa consciência, pois esta é a verdadeira manifestação do Messias-Juiz, como tendo o som de um estrondo de muitas águas, de águas torrenciais24.

É novamente o símbolo da reencarnação que temos aqui. Trata-se da experiência profunda conquistada pelos milênios afora, de uma sabedoria pela vivência.

Ao nível de um Cristo temos as reencarnações levando à perfeição; em nosso estado atual, é a consciência depurada que nos projeta aos níveis mentais mais elevados cobrando de nós mesmos uma conduta mais ajustada ao plano de nossos conhecimentos. Esta é a voz de muitas águas que devemos ouvir, a do amadurecimento para as realizações com Cristo e por Cristo.

16 E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece.

E ele tinha na sua destra sete estrelas; destra, é a mão direita. Podemos ver aí o poder do Filho do homem; Ele está na direção e tudo tem sob seu controle, todos os eventos planetários estão em Suas mãos.

É muito comum o temor das criaturas diante do Apocalipse; vêm nele uma série de tragédias e talvez por isso o desprezem e nem tentam entendê-lo.

Já dissemos, e repetiremos sempre que preciso, a mensagem desta Revelação não é de terror como muitos pensam, mas é essencialmente misericordiosa. Não bastasse isso, vemos no texto claramente, e sabemos disso, que o Planeta em que vivemos está sob o governo de Jesus, que tem assessores altamente eficientes, estando tudo sob controle.

Todos os problemas por que passamos, apesar de muitos deles serem culpa nossa, da população invigilante de nosso orbe, todas as revoluções sociais, os cataclismos, e as mudanças de todas as espécies, estão dentro do quadro de programação superior realizada pelo Cristo, desta forma não há com que preocuparmos.

Sete estrelas; são conforme elucida o próprio texto, os anjos das sete igrejas, isto é, as lideranças espirituais destas. São também estendendo o entendimento todos aqueles Espíritos que trabalham sob a direção de Jesus em todos os níveis, os que estão a Ele ajustados. Ele é um Governador que tem sob seu comando todos os ministros, secretários e assessores. Todos os escalões têm Nele a segurança por isso lhe são fiéis.

e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; o que sai da boca é a palavra, assim, devemos entender esta espada como sendo a palavra que sai da boca do Filho do homem.

Outras vezes este símbolo aparecerá neste Apocalipse, e o mesmo foi também usado por Paulo:

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.25

Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.26

Esta espada aguda define a alta capacidade de penetração que tem esta Palavra. É tão importante esta expressão no contexto judaico que segundo a tradição Deus teria criado todo Universo pela Palavra. O próprio Jesus é tido como a Palavra, Ele é o Verbo que se fez carne, o Logos Divino.

Portanto, esta Palavra é penetrante, não há dureza que a impeça de penetrar. Segundo o autor de Hebreus, ela divide alma e espírito. Nós não vamos cometer o disparate de tentar explicar isto, pois Emmanuel e André Luiz nos informam através de Chico Xavier, que Espíritos do nível evolutivo deles, em seus estudos no Plano Espiritual ainda não conseguiram chegar a uma conclusão satisfatória em termos de matéria e espírito, onde finda um e inicia o outro; se eles não entenderam, o que nós podemos então dizer ou acrescentar? E aqui a profundidade é ainda maior, pois trata-se de “alma” e “espírito”.

O que depreendemos disto é que nada pode impedir a Palavra de Deus de realizar o que ela tiver de realizar, não adianta rebeldia, inconformação, preguiça, nada, Ela se cumprirá.

Podemos ver ainda nestes dois fios razão e sentimento se unificando no amor e na sabedoria; positivo e opositivo, movimento e repouso, verão e inverno, cumprindo seus papéis nos ciclos da Criação Infinita. É a dualidade do verso se transmutando na Unidade de Deus, o Uno, formando o Universo.

Em nossa existência, morte e vida são também dois fios como expressão desta Palavra que é sempre dinâmica.

A espada fere, mata; A Palavra, se a Ela nos ajustarmos pela vivência, mata conceitos e faz nascer novos, que serão um dia velhos e também morrerão pela compreensão da Palavra num nível mais elevado, de onde outros nascerão… é sempre assim, este mecanismo Divino de Criação pela Palavra, até que um dia pela perfeita assimilação Dela, também nos tornamos veículos de Sua manifestação, detentores do Logos em nossa própria intimidade.

e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. Rosto; é a face do Filho do homem, como Ele se manifesta.

Como Ele se manifesta? Através de sua mensagem operacionalizada.

Não tem assim um caráter personalista, qualquer um que viver a mensagem de Jesus em sua plenitude nos fará ver o Cristo, como Ele fez-nos ver o Pai.

Este rosto é como o sol. Os Espíritos nos informam que o sol é uma das melhores formas de compreendermos Deus dentro de nosso estado acanhado de evolução. Jesus é também o nosso sol, Ele é a luz que não faz sombras, é o sol, quando na sua força resplandece, ou seja, é o máximo de luz que podemos assimilar. Esta é a sua expressão o rosto com que o Filho do homem se manifesta e se manifestará em nós quando, como um espelho de alta pureza pudermos refletir a luminosidade de Deus em toda Plenitude possível.

17 E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; eu sou o Primeiro e o Último

E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; esta é uma reação comum entre os que sentiram a Presença Divina. Em Ezequiel temos:

Este era o aspecto da semelhança da glória do SENHOR; e, vendo isso, caí sobre o meu rosto e ouvi a voz de quem falava.27

Em Daniel o fato se repete:

Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei amedrontado e prostrei-me com o rosto em terra; mas ele me disse: Entende, filho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim. 18 Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava;28

Saulo de Tarso ao ver Jesus na estrada de Damasco caiu do cavalo; o orgulhoso senador Públio Lentulus tomado de intenso magnetismo diante do Senhor ajoelhou-se sem nem perceber.

Todos estes Espíritos foram sensibilizados pela mensagem superior que define a Glória Celestial.

Pilatos, no entanto, não se sensibilizou, continuou de pé; Caifás também não.

Isto vem nos mostrar que João, o evangelista, ao cair aos seus pés, demonstra que estava preparado para receber a Revelação, ele estava num estado de sensibilidade próprio de quem encontra-se receptivo a esta Luz que vem do Alto.

Ele não suportou a luz do Filho do homem, não pôde sintonizar com Seu estado superior de consciência; caiu seus aos pés, todavia, definindo um ajuste com Suas bases, com aquilo que lhe dava sustentação que é a plano operacional do Evangelho, a perfeita sintonia com o Pai dentro de uma proposta de obediência aos Seus Desígnios.

A expressão, como morto, define nosso estado diante de alguém que se apresenta muito acima de nossas possibilidades. É o reconhecimento de nossa pequenez, de nossa incapacidade diante de um plano altamente superior. É como se num átimo de segundo ele trabalhasse toda sua inferioridade, sentisse todas as suas dificuldades.

É preciso reconhecer, que diante de Jesus, o Vivo, nós estamos mesmo “mortos”, não há como fazer outra comparação. Todavia deve ser uma morte dinâmica, pois é o homem velho que morre para fazer nascer a Nova Criatura.

e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: não temas; é muito linda a citação do livro de Daniel quando o profeta encontrava-se na mesma situação:

Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava29

É preciso reconhecer que nos textos dos livros dos profetas é Jesus quem os dirige pessoalmente30.

Quantas vezes, nós também estando “sem sentidos”, sentindo-nos a menor entre as criaturas, não nos surge Jesus, se não pessoalmente, mas através de um livro, de uma mensagem edificante, ou de algum mensageiro Seu, que pode ser um amigo, ou um Espírito num sonho, nos toca, nos levanta, nos coloca de pé novamente, no lugar onde devemos estar para, cheio de autoconfiança, realizarmos o melhor?

João viu que Ele pôs sobre si a destra, que é mão em que Ele tinha as sete estrelas, mão que como vimos é a representação de todo Seu poder, porque era uma mão que se fazia veículo de toda Sua generosidade, e daquela boca, que tinha um som forte como que de trombeta, saia uma exortação suave, porém firme, dizendo-lhe: não temas.

É como se chamasse o apóstolo pelo nome e lhe garantisse, você está em total segurança, Eu sou o Primeiro e o Último, Sou Seu Pastor, nada lhe falta:

buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.31

Eu sou o Primeiro e o Último; mais uma vez o verbo “ser” na primeira pessoa do singular definindo a Autoridade Crística.

O Primeiro e o último, imensas possibilidades interpretativas se abrem através destas expressões dentro do simbolismo da Revelação.

Representam elas toda soma de experiências vivenciadas pelo Espírito, as conquistas realizadas pelo Ser Inteligente.

O primeiro e o último define também a linha do tempo a que Jesus esteve sujeito. Ele evoluiu; isto quer dizer que ele também passou pelos processos naturais de espiritualização. Segundo Emmanuel evoluiu em linha reta, o quer dizer que Ele, a despeito de ter feito Seu caminho sem a experiência da rebeldia, também passou pelo inevitável processo de crescimento.

Jesus é o primogênito, é o primeiro em nosso orbe que vivenciou Deus e Sua Lei. É o último, ou seja, o que já alcançou a perfeição possível no planeta a que estamos vinculados.

É importante compreendermos bem isto para não limitarmos Deus e nem a evolução possível. Jesus é o primeiro em nosso sistema planetário, mas não podemos ter a certeza se o é também em relação ao sistema solar; Sua magnífica evolução é o último estágio que podemos alcançar dentro de nossa acanhada acuidade espiritual, mas não podemos dizer que é o máximo possível no que diz respeito à nossa galáxia.

Nosso Deus não é um Deus de nosso planeta, é Deus do Infinito.

18 e o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno.

E o que vive; é o que tem vida em Si mesmo, pois já a conquistou. Está liberto da morte, do ciclo dos renascimentos.

Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.32

A morte é fruto do pecado, o Cristo é o que já venceu o pecado, já se redimiu, já se recompôs diante de Deus.

fui morto; muito mais do que da morte na cruz esta expressão fala da encarnação do Cristo, de Sua prisão na matéria.

E o verbo se fez carne…33

A encarnação proporciona um estado de morte, cerceia o Espírito, o prende à forma, ele perde a memória e outros potenciais.

mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Trata-se da vida abundante, Vida Eterna. Pois já foi vencida a causa da morte, o pecado, que nada mais é do que a transgressão à Lei de Deus.

É importante compreender, que no caso de Jesus Ele era vivo, foi morto e agora esta vivo para sempre.

Esta sequência é apenas didática, pois Jesus não morreu ao encarnar, Ele não perdeu Suas possibilidades. Por quê?

Porque Sua morte, ou seja, encarnação, foi em nome do amor. Ele se deixou envolver nos fluidos obscuros da Terra para vir até nós e exemplificar o modus operandi de nos livrar da morte em que nos situamos. Foi uma opção Sua, e não uma necessidade evolutiva.

E tenho as chaves da morte e do inferno. Aquele que pode mais pode menos. Ele tem as chaves da morte e do inferno, porque tem as chaves do céu.

Chave da morte e do inferno significa a Autoridade já conquistada pelo Cristo. Ele tem total domínio sobre o morte, pois dominou o “pecado” em Si mesmo. Ele não mais transgride a Lei, antes a obedece.

Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. ( João, 10: 9)

Esta parábola retrata bem a condição do Cristo, Ele tem o poder de entrar e de sair, pois tem a chave da autoridade, ele pode desativar o mal, pois o desativou em Si.

Tal prerrogativa é dada quando se age em conformidade com o Evangelho, não por constrangimento, por legalismo, mas de forma espontânea.

É o símbolo da segunda vinda de Jesus; a primeira representa o Evangelho como lei, buscamos segui-lo como norma de salvação, ele atua em nós de fora para dentro. A segunda vinda de Jesus se dá quando vivenciamos o Evangelho de dentro para fora, como conquista implícita da alma, quando agimos com o coração, ou seja, como o homem interior.

Neste momento poderemos dizer que temos também a chave da morte, porque teremos controle sobre ela, ela não mais atuará em nós, e também a chave do inferno que é o estado de morte propriamente dito.

19 Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer…

Neste versículo temos três planos distintos: coisas que tens visto; coisas que são; e as que depois hão de acontecer.

Pela visão a abrangência é muito grande. Vemos coisas que nunca se realizaram e nem realizarão, neste ponto a escatologia do Apocalipse pode se transformar em “escatofobia” que é o medo de tudo que achamos que vai acontecer, sempre por uma ótica negativa. Mas é importante escrever estas coisas, pois através da análise delas realizamos nosso processo de autoconhecimento.

Existem coisas que vemos que estão acontecendo, elas são realidade do momento, no entanto é preciso analisá-las para sabermos se são coisas que vão se manter ou se são puro modismo. O texto nos convida a perceber as que verdadeiramente são, ou seja, nos convoca a uma interpretação mais minuciosa dos fatos, vermos a realidade que existe neles. Trata-se de ver e escrever o que foi visto sem adulterar a visão, e podemos dizer mais, ver para além do puramente físico, ver o que os olhos não veem.

Neste ponto as curas dos cegos realizadas por Jesus ganham grande importância, já que tendo olhos muitas vezes não vemos no sentido de compreender corretamente os fatos. Deturpamos tudo pela mania de valorizar mais o negativo. Não é esta também uma forma de cegueira?

Aqui é preciso considerar também que um mesmo fato pode ter vários ângulos em que podemos observá-lo, e que pessoas diferentes veem de formas diversas. Assim, aprendemos com o Texto Sagrado, a trabalhar o respeito pela condição do outro, por sua faixa evolutiva; entender o processo evolucional das criaturas é um grande avanço, é a chave para vivermos o Evangelho em sua essência. O amor tem a sua gênese na compreensão.

As coisas que hão de acontecer são as profecias propriamente ditas. Aquele que tem a capacidade de vê-las é aquele que já está ajustado ao plano de Deus.

Ele compreendeu a Lei e estudando-a vê, como diz o poeta, que o passado abre os presentes para o futuro34. Ou seja, que podemos prever as coisas que hão de acontecer pelas que são, e compreender estas como desenvolvimento natural das que foram.

Emmanuel, através da “pena” de Chico Xavier nos diz que todos os fatos posteriores à existência de João estão ali [no Apocalipse] previstos35. É o que diz este versículo que ora comentamos; as coisas que tem visto sugerindo as que aconteceram, pois o apóstolo já as tinha visto, era passado; as que são fala-nos do presente, e as que vão acontecer, do futuro.

O Apocalipse nos revela assim, a Lei Universal das Profecias, que nada mais é do que o desenvolvimento natural da própria Lei de Deus.

existe uma Lei, invisível para vós, todavia mais forte que a rocha, mais poderosa que o furacão, que caminha inexorável movimentando tudo, animando tudo; essa Lei é Deus. Ela está dentro de vós, vossa vida é uma exteriorização dela e derramará sobre vós alegria ou dor, de acordo com a justiça, como o merecerdes.36

20 O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.

Neste versículo o Anjo Revelador dá-nos uma ajuda, ele ensina como interpretar a Revelação através de um exemplo, ele explica alguns versos anteriores.

Desta forma não é preciso comentar muito, pois a explicação está no próprio texto. Entretanto podemos ver algumas coisas nas entrelinhas.

Sendo as sete estrelas os anjos, isto é, os orientadores das igrejas, as lideranças; e os castiçais as igrejas, que são no plano físico a materialização do pensamento crístico de acordo com a faixa evolutiva de cada um; podemos depreender que o Apocalipse só é dirigido àqueles que já têm uma percepção espiritual. Para os Espíritos da retaguarda ainda não há Apocalipse, eles encarnam, desencarnam, voltam a reencarnar, e tudo continua como antes, não têm a menor preocupação com o que há de vir, querem é viver, aproveitar a vida, e tirar todas as vantagens possíveis.

A Revelação só encontra acolhimento naquele que já pensa um pouco além, naquele que diz pelo menos assim, “não é possível, deve haver alguma coisa para além desta vida.”

Deste modo, a aceitação da existência de Deus, da alma, e da imortalidade da alma, passa a ser um parâmetro para avaliação do público alvo do Apocalipse, não adianta, pelo menos no momento atual, perder tempo com aqueles que não são tocados por estas realidades.

Podemos ainda a título de breve conclusão deste capítulo fazer as seguintes considerações.

Há um plano organizado no Universo, que em sua totalidade é Ordem. As unidades menores são coordenadas e ajudadas por unidades maiores e assim por diante. Cada unidade coletiva tem o seu guia.

O Guia maior é Cristo, cabeça da igreja, o que tem na destra (mão direita) as sete estrelas e os 7 castiçais, ou seja, tem o domínio, o controle, a governança de tudo.

Há em tudo cooperação, sete estrelas, sete igrejas. Jesus, o Cristo, precisou de doze discípulos; são doze as tribos de Israel, doze meses formando o ciclo de um ano. Universalidade; nunca estamos sós.

O castiçal é irradiador de luz, entretanto, ele não é o objetivo, mas instrumento didático, assim devemos entender a igreja, o objetivo é a criatura, o Espírito, ele deve ser atendido em suas necessidades.

A luz vem em uma linha de cima para baixo.

A evolução, que é de baixo para cima, forma instrumentos; a virtude e o ganho moral vêm do Alto, não são criados pela evolução, mas são conquistados pelos instrumentos formados pelo processo evolutivo.

Para termos autoridade é preciso que estejamos ajustados ao plano em que nos movimentamos, o Universo não comporta desordem, esta quando acontece é na intimidade da criatura, e o Apocalipse é a luta entre o bem e o mal no interior desta para que a Ordem seja finalmente restabelecida. O sofrimento inicia quando nos rebelamos ao contexto a que estamos ajustados.

Cada um de nós é uma estrela que está vinculada a uma estrela maior:

Cristo > cabeça do varão

varão > cabeça da mulher

Deus > cabeça de Cristo37.

 

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13 Apocalipse, 1: 9 a 20

14 Hebreus, 4: 12

15 STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento, 1ª Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2007. Pág. 865

16 Isaías, 30: 8

17 I João, 4: 1

18 Cf. Mateus, 5: 16

19 (KARDEC, Os Messias do Espiritismo Fevereiro de 1868)

20 Cf. Mateus, 5: 8

21 Cf. Salmo, 95: 1

22 (Dicionário Bíblico Strong 2002)

23 Isaías, 48: 10

24 Cf. Daniel, 10: 6; Ezequiel, 1: 24; 43: 2

25 Hebreus, 4: 12

26 Efésios, 6: 17

27 Ezequiel, 1: 28

28 Daniel, 8: 17 e 18

29 Daniel, 8: 18

30 Cf. [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito), O Consolador, 16ª ed. 1993] Q. 276

31 Mateus, 6: 33

32 I Coríntios, 15: 26

33 João, 1: 14

34 Adaptação de um verso de Taiguara na música “Que as Crianças Cantem Livres”.

35 [F. C. XAVIER / Emmanuel (Espírito) 1980], cap. XIV.

36 UBALDI, Pietro. A Grande Síntese, 18 ª Ed., Campos dos Goytacazes: Fraternidade Francisco de Assis, 1997.

37 I Coríntios, 11: 3

38 Romanos, 3: 28