Carta à Igreja de Tiatira

 

 

Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido: 19 Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. 20 Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. 21 Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. 22 Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. 23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras. 24 Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; 25 tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. 26 Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, 27 e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; 28 assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. 29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.1

Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao bronze polido:

Tiatira era uma colônia de gregos da Macedônia, situada entre Sardes e Pérgamo, sobre o rio Lico; seus habitantes ganhavam a vida pelo comércio e pela arte da tintura em púrpura.2

Só para efeito de lembrança, Lídia, a vendedora de púrpura que acolhe o apóstolo Paulo na cidade de Filipos era de Tiatira.

Esta experiência de Tiatira como um cidade voltada para o comércio pode sugerir-nos a necessidade que tem a comunidade de Jesus de conviver bem com todas as possibilidades, inclusive com os recursos materiais. Estes não são negativos, o que é preciso é que eles sejam bem aproveitados no atendimento das necessidades de nossos semelhantes. O comércio é uma oportunidade daqueles que militam nesta área, de servir à comunidade de um modo geral, de produzir riquezas, gerar empregos e alavancar o progresso. Portanto, se bem utilizado está em harmonia com a proposta cristã que a doutrina espírita veicula de que fora da caridade, que é o dinamismo do amor, não há salvação.

As demais expressões do versículo já foram comentadas anteriormente.

19 Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras.

Conheço as tuas obras; trata-se da conduta de cada um de nós, pois não podemos esquecer que a mensagem é dirigida à individualidade que evolui tendo Jesus por norteador de seus passos. O “anjo” da igreja é bem a representação de nosso superconsciente que é a faixa de nosso Ser que já trabalha em favor do que é espiritual.

O Cristo, por estar em uníssono com o Pai, conhece todas as nossas obras, a intimidade de cada um e sabe tudo a nosso respeito, o sentimento que nos move.

o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança; são valores positivos, virtudes que já possuímos conquistadas no encaminhamento da evolução. Todos temos falhas, e com referência a amor, fé, serviço e perseverança, ainda não os possuímos com grandeza e autenticidade, mas já temos nossos lampejos de qualidade e o Educador por excelência vê os valores positivos e buscando salientá-los extrai sempre de nosso Ser o melhor. Esta também é uma forma de nos responsabilizar e mostrar-nos que já estamos em conexão com o Bem daí a necessidade de, vigiando-nos mantermo-nos fiéis aos propósitos superiores.

Jesus viu no publicano Zaqueau alguém pronto para a salvação, na obsediada de Magdala uma servidora de primeira grandeza, em Saulo de Tarso, Paulo o apóstolo fiel. E nós, como temos visto as pessoas com quem convivemos?

Assim temos, amor como expressão de nosso melhor sentimento que precisa ser trabalhado e desenvolvido; transformado a tal ponto, que ele seja o destaque em nossas atitudes e possa ser através de sua manifestação reconhecida nossa conduta.

Que em nossa possa ser destacada nossa fidelidade a Deus e aos Seus desígnios, que em tudo nos mantenhamos operantes no Bem e servidores leais.

Por serviço entendemos a dedicação com que realizamos o trabalho a nós proposto. Todos fazemos algo, cada um define a sua obra particular; que a nossa seja expressão de qualidade e utilidade em favor do bem comum de tal forma que o Cristo ao dirigir à nossa consciência possa dizer: conheço o teu serviço, e isso nos traga paz.

Aquele que perseverar até ao fim será salvo3, nos afirmou o Messias. Na atitude de “perseverar” expressamos paciência, constância, estabilidade, firmeza, tolerância.

No contexto desta Revelação esta palavra tinha o sentido positivo de não desviar dos objetivos superiores, de lealdade a Deus, mesmo sendo vítimas de contratempos e adversidades. Deste modo, ser perseverante segundo orientação do Evangelho é diferente de ser teimoso e insistente naquilo que sabemos não ser bom. Esta é uma característica do rebelde, do recalcitrante.

Deste modo, avaliemos em que temos insistido, temos sido perseverantes no Bem a despeito de nossas dificuldades, ou temos preferido dar vazão às inferioridade e permanecidos na teimosia e na desobediência?

e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. Devemos entender estas últimas obras como sendo nossas atuais realizações, ou seja, nossa conduta mais recente.

Estamos sempre sobre o impositivo da Lei da Mudança, desta forma, estamos constantemente modificando algo em nós. Importa-nos portanto, que modifiquemos para melhor, que estejamos evoluindo. E como nosso objetivo é a autoeducação e o crescimento espiritual, é neste sentido que devemos avaliar nosso progresso.

Assim, que nossas últimas obras expressem sempre um Ser melhor, o verdadeiro cristão é aquele que melhora sempre. Jesus não cobrou de ninguém perfeição imediata, mas que progredisse.

À mulher pega em adultério aconselhou que não pecasse mais; da viúva indigente destacou sua pequena oferta; entretanto, a um sábio da Torah sugeriu que a vivenciasse.

Portanto, nada não nos é pedido que não possamos realizar, a cada um segundo as suas possibilidades, todavia, que a nossa conduta atual expresse progresso em relação às anteriores.

Temos através da expressão mais numerosas um comparativo que designa quantidade, entretanto o adjetivo grego pleion quer dizer maior em quantidade e também maior em qualidade, podendo, desta forma, conciliar a intensidade das realizações com as qualidades destas que é o objetivo da tarefa reeducativa: melhorar sempre o Espírito caminhante para Deus.

Portanto, a observação é, que as últimas obras devem ser mais numerosas, mas também melhores no atributo qualidade.

20 Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos.

Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel; notamos aqui a mesma linha didática das cartas anteriores, primeiro vem o reconhecimento dos fatores positivos, assim, chega-se ao coração da criatura, ganha-se a sua confiança; depois, demonstrando haver interesse na melhoria e progresso delas, manifestando afeto e carinho, observa-se o que necessita ser mudado.

É importante repetir isso para que esta lição fixe em nós, pois se somos seres que devemos trabalhar sempre nosso processo autoeducativo, também somos elementos que através da vida de relação devemos auxiliar no projeto educacional das criaturas com quem convivemos.

Jezabel era uma personagem histórica, teria sido mulher do rei Acabe conforme depreendemos do Primeiro Livro de Reis4.

Ela era pagã, filha de um rei pagão, com sua beleza encantou o rei de Israel e este não tendo força moral não conseguiu se manter no projeto de Deus para o povo hebreu, deixando-se levar pela liberalidade no campo da idolatria e de uma sexualidade pervertida. Ela além de defender a idolatria perseguiu os profetas.

Aqui, no texto do Apocalipse, ao que parece, trata-se de um nome simbólico de uma mulher que aparentando ser profetisa traz complicações para a comunidade cristã através do incentivo a uma liberdade permissiva.

Assim, Jezabel simboliza toda nossa estrutura íntima comprometida com os valores de um nível inferior em termos de moral, onde prostituição e idolatria sintetizam toda esta negatividade.

Aliás, no contexto bíblico prostituição nem sempre significa desvio no campo da sexualidade, expressando também atitudes idólatras de vários níveis, onde a tradição do Deus único de Israel é preterida em favor de interesses mais imediatos e escusos.

Devemos notar que o público alvo da recriminação deste versículo não é chamado à atenção por seguir a doutrina de Jezabel, pelo menos aqui não, mas apenas por tolerar-lhe.

É de grande sutileza esta observação, pois existe um pensamento que diz que, se um mal não nos aborrece, estamos em perigo, pois a princípio o toleramos, depois a ele nos adaptamos, e quando percebemos já estamos envolvidos e comprometidos com ele. É o que podemos chamar de psicoadaptação; no início não concordamos, depois vamos aos poucos achando que é normal, e daí para sua prática é simples questão de tempo.

Jesus que era o Psicoterapeuta por excelência já nos alertara:

Adverti e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus.5

Trata-se de nosso envolvimento com uma conduta desabonada pelo Evangelho que pode se manifestar por mínimas transgressões, às vezes uma “mentirinha” que falamos que achamos não fazer mal a ninguém, outras vezes é um olhar que pensamos sem maiores pretensões, mas que carrega toda uma malícia em matéria de sedução.

que a si mesma se declara profetisa; no campo espiritual, onde todos nos sabemos de uma forma ou de outra comprometidos com o atraso moral, autodeclararmos possuidores de uma virtude é no mínimo uma atitude suspeita; aquele que realmente tem conquistas positivas não precisa evidenciar seu mérito, suas atitudes mostram quem realmente ele é. Normalmente este que se vangloria de uma conquista é porque ainda não a alcançou.

Podemos ver também simbolizado em Jezabel a religião descomprometida com o que é essencial, a transformação moral de seus seguidores. Estamos aqui vendo a religião institucionalizada que dizendo-se instrumento de salvação, às vezes se declarando como única capaz de isto realizar, mais se preocupa com os fatores exteriores e com a sua manutenção e crescimento deixando-se levar por místicas, ídolos, e ritos sem maiores consequências transformadoras. Ou ainda os religiosos que dizendo-se seguidores de uma proposta única e moral, dizem que são isto ou aquilo, mas que nada praticam do que falam. O Mestre os referiu como sepulcros caiados, formosos por fora, porém, imundos em sua essencialidade.

não somente ensine, mas ainda seduza…; “ensinar” é transmitir algum conhecimento e isso podemos situar tanto no campo positivo como no negativo. Sempre ensinamos algo a alguém, nossos exemplos sempre transmitem valores. Resta-nos avaliar o que estamos ensinando, de conformidade com quem? Temos ensinado o Evangelho, ou distanciado as criaturas deste através de nossa conduta?

O verbo “seduzir” no sentido original do vocábulo grego tem, no entanto, um sentido sempre negativo de fazer alguém se desviar do caminho reto, de desencaminhar alguém em relação à verdade. É fruto do ensinamento negativo que muitas vezes passamos nas entrelinhas de nossas ações. Sutilmente em muitas oportunidades temos seduzido pessoas; às vezes com um simples sorriso.

Tolerar Jezabel, seduzir pessoas, passa por tudo isto, é mantermos em nosso comportamento certas atitudes que já não nos dizem mais respeito quando nos dizemos seguidores do Cristo. É usarmos artifícios já bem conhecidos de nossa personalidade para alcançarmos os bens do mundo, seduzimos e somos seduzidos com grande facilidade, este é o alerta do texto, e é através deste comportamento profano que levamos conforme nos diz a continuidade do versículo os meus servos, isto é, do Cristo, a praticarem a prostituição.

Meus servos seriam aqueles vinculados à proposta cristã. Se somos liderança, multiplicadores de conhecimentos, temos compromissos com aqueles que nos seguem ou com aqueles a quem orientamos, e isto de uma forma ou de outra sempre acontece.

Nas igrejas ou em nosso movimento espírita sempre têm aqueles que por serem mais simples, de menores conhecimentos, são continuadores da obra de outros que estão à frente investidos de maiores responsabilidades. É neste ponto que devemos trabalhar a lição do versículo. O que temos levado estes a praticarem?

Voltamos a lembrar, prostituição na literatura bíblica nem sempre é tema ligado à transgressão da sexualidade, é muito mais; todas as vezes que corrompemos algo ou alguém em relação aos seus objetivos superiores, todas as vezes que valorizamos mais o humano que o Divino, estamos nos prostituindo ou levando alguém a praticar a prostituição. Assim, tenhamos cuidado, a Revelação diz de nosso comportamento muito mais do que pensamos, o Apocalipse está mais presente em nosso dia a dia do que supomos; é desta forma que ele deve ser visto por nós como orientação a nos encaminhar para a Boa Notícia de que ele é portador.

e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. Este é outro tema sutil e delicado. Não mais sacrificamos aos ídolos como se fazia no paganismo antigo, entretanto não podemos dizer que não mais deixamos de sacrificar ao mundo de outras formas.

Por “comer” devemos entender ingerirmos alimentos. E não temos nos alimentado de conhecimentos que nos desencaminham em relação à verdade? Não temos experimentado nutrição indevida através de músicas e literaturas descomprometidas com a moral? E não temos cultuado estes ídolos que nos trazem estes sustentos?

Mesmo no campo de nossa religiosidade ao valorizarmos mais a mística do que a orientação, ao buscarmos nos nutrir só no sentido intelectual dos ensinamentos, esquecendo de sua aplicação no dia a dia, estamos de modo mais sutil comendo das coisas sacrificadas aos ídolos, que podem ser até mesmo nossos melhores orientadores espirituais desde que desviados de seus objetivos superiores de levar-nos ao processo de aperfeiçoamento moral.

Assim, citar Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, ou outro qualquer, sem a devida responsabilidade de aplicar o que eles dizem em nossa própria vida, é também cultuá-los sem o devido respeito, alimentar de suas informações somente os fazendo ídolos e não orientadores abalizados pelo próprio Cristo.

21 Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição.

Dei-lhe tempo para que se arrependesse; em última instância devemos lembrar que o Apocalipse é sempre uma revelação de Deus vinda por meio do Cristo. Portanto, é o Criador quem nos concede o tempo como Terapêutica Divina a fim de nos trazer Saúde espiritual através de nossa recomposição consciencial.

Assim, o tempo significa aqui as diversas oportunidades com que no encaminhamento evolutivo somos agraciados visando nosso progresso.

Deste modo, aprendemos que o objetivo maior de nossa existência é o acerto com o Divino e o arrependimento é o passo inicial a facultar esta dinâmica necessária.

Todos que nos achamos imersos em nosso Universo material, mesmo os que se acham na espiritualidade, somos detentores do pecado original da insubordinação, fazendo-se necessário que nos arrependamos a fim de iniciarmos trajetória no sentido da regeneração. O tempo é dado por Deus, no entanto, somos nós quem o administramos no sentido de fazê-lo mais ou menos longo na busca de nossa libertação. O texto é claro ele é dado para que haja o arrependimento, ou seja, para que nos encaminhemos para Deus; assim, não sejamos mais uma vez rebeldes, compreendamos o sentido da vida que é o da espiritualização, mesmo que com sacrifícios e suores amplos.

Ela, ou seja, nossa personalidade corrompida – Jezabel – não quer arrepender-se por pura rebeldia e comodismo, pois este caminho é o da “porta estreita” que nos leva a deixar a zona de conforto e compreendendo até mesmo nossas limitações e obstáculos, realizar, edificando uma Nova Criatura conduzida pelo Bem.

Tornar-se bom, um Espírito renovado; converter nosso sentimento com a pureza evangélica. Eis o fim de nossa existência… existência que se manifesta em ciclos no encaminhamento deste tempo dado pelo Pai como mecanismo de libertação através da fidelidade aos Desígnios Superiores.

O justo viverá por sua fidelidade6, só assim nos resgataremos da prostituição, da corrupção, da transgressão ao Divino. Só pela vivência autêntica da Verdade de Deus nos libertaremos de nossas impurezas geradoras de dores e sofrimentos.

22 Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita.

Eis que a prostro de cama; surge neste passo a expiação que é aquele momento em que o Espírito não tem mais o poder de escolher livremente, pois usou mal seu livre arbítrio.

A cama representa uma limitação maior qualquer que seja ela. Jezabel se dizia profetisa, mas seduzia os seguidores de Jesus induzindo-os à prostituição. É o símbolo daquele que se diz religioso, mas que é materialista. Provavelmente usa a religião por interesse próprio buscando levar vantagem imediata, e facilidades em sua vida cotidiana. Tem conhecimento dos fatores espirituais, por isto é mais responsável daí ter como consequência de sua imprevidência a expiação, pois peca contra o Espírito Santo, que é o erro consciente.

A mensagem do versículo serve de alerta para nós nos dias atuais que temos grande consciência, pois somos estudiosos do Evangelho. Devemos assim, escolher entre a fidelidade à prática cristã através da simplicidade primitiva, o primeiro amor, ou a corrupção dos valores espirituais priorizando o interesse pessoal. Ainda estamos no momento da semeadura, todavia o versículo nos aponta o instante seguinte, o da colheita. Se optarmos por Jezabel, a consequência será a prostração em uma cama, a expiação; neste momento não será mais possível escolher, apenas viver o instante expiatório buscando purgar nossas impurezas até que se extinga a causa geradora do mal.

bem como em grande tribulação os que com ela adulteram; se para Jezabel temos a expiação, para os que com ela adulteram, que são também responsáveis, porém em menor escala, temos uma grande tribulação que pode ser considerado sofrimento, mas não ao nível uma expiação, a melhor definição para este estado seria de uma provação acentuada.

Qual a diferença? Na expiação o Espírito não tem escolha, ele não consegue se ver livre da situação, é quando ele perde o livre arbítrio. Na provação, mesmo que acentuada, ele sofre, porém tem a opção de buscar outros caminhos. Quando ele compreende a situação é melhor passar pela prova sem adiar o resgate, pois se não aproveitar o momento para se recompor pode no próximo passo ter a expiação como alternativa para suas transgressões.

Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil.7

Assim, entendemos, que estes que com ela adulteram, são corresponsáveis, todavia, por não pertencerem à liderança têm um certo alívio, existem alguns atenuantes. Entretanto, como já dissemos, é bom que prestem atenção, pois se não melhorarem, ou seja, se não se arrependerem e continuarem adulterando, poderão sofrer maiores consequências.

não peques mais, para que não te suceda algo ainda pior!8

caso não se arrependam das obras que ela incita. É o que já comentamos, a dor só acontece se não houver o arrependimento que é a mudança mental e a consequente atitude de correção do erro. O texto é claro, a “grande tribulação” só vem caso não se arrependam…

Quem incita as obras, é ela, Jezabel, por isso a maior responsável e a mais penalizada. Deste modo, reflitamos sobre o que estamos incitando nos outros, e a coisa pode ser mais sutil do que pensamos, pois esta incitação pode se dar por uma roupa sensual usada, por um incentivo a uma insubordinação ou qualquer coisa do gênero que leve alguém menos avisado a se corromper de algum modo.

E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no mar.9

23 Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras.

Matarei os seus filhos; os filhos podem ser os seguidores futuros da doutrina de Jezabel. Ela induz à negatividade os que com ela adulteram, estes serão se não se arrependerem as futuras “Jezabels” que vão gerar outros filhos que são seus seguidores e assim por diante.

Vejamos a evolução das consequências. Jezabel tem a expiação, os que com ela adulteram grande tribulação que como vimos trata-se de uma prova acentuada. Se a questão se agrava e não há arrependimento, os filhos, que representam o erro aprofundado têm a morte, que é uma consequência ainda pior que a expiação. Isto quer dizer que se mesmo com a expiação não houver melhoria, a morte é a consequência, e aqui não estamos falando da morte como desencarnação, mas podendo significar uma perda maior como uma deportação, por exemplo, a um planeta num nível de maior atraso evolutivo.

Podemos ainda ver nestes filhos as “Jezabels” e os seus parceiros numa futura reencarnação, que do mesmo modo é o problema aprofundado, por isso consequência mais penosa.

Com o agravamento da situação e a penalidade maior, não há como esconder os fatos, não se consegue camuflar um momento expiatório. Assim, todas as igrejas conhecerão, isto é, toda a comunidade, todas as pessoas da relação tomarão ciência dos fatos, e se forem conhecedoras da realidade espiritual poderão deduzir o porquê da situação se manifestar deste modo.

que eu sou aquele que sonda mentes e corações; em algumas versões temos rins e corações. Em grego a palavra é nephros que traduz o hebraico Kilyah, ambos querem dizer rins. Este órgão na literatura judaica era o símbolo de pensamentos íntimos, sentimentos, propósitos da alma; ou seja, para eles este órgão era a sede das paixões e dos impulsos inconscientes. O coração era a sede da atividade consciente. Ambos na Bíblia hebraica estão sempre associados denotando o conjunto das potencias interiores do homem.

Deus, ou mesmo o Cristo por estar em Unidade com Ele, percebe o Ser humano por completo, mente e coração, sonda a intimidade dos seus sentimentos, dos seus propósitos. Nada lhe fica escondido.

O livro Sabedoria, que não pertence à Bíblia hebraica, mas que é literatura cujo o autor era judeu e expressa bem o sentimento deste povo, diz:

A sabedoria é um espírito amigo dos homens, não deixa impune o blasfemo por seus propósitos, porque Deus é a testemunha de seus rins, perscruta seu coração segundo a verdade e ouve o que diz a sua língua10.

O Apocalipse é uma mensagem para os que têm informação numa conceituação mais ampla de acordo com a realidade do Espírito. É preciso que conheçamos a nossa intimidade para crescermos com segurança.

e vos darei a cada um segundo as vossas obras. Trata-se da Lei de Causa e Efeito, lei que conhecemos bem na Doutrina Espírita.

A Lei faz uma sindicância na intimidade de cada um de nós e dá a cada um segundo a sua conduta. Não por um motivo de punição ou prêmio, mas porque ela em sua expressão didática promove sempre o que é melhor para cada um visando o projeto pessoal de progresso e melhoria espiritual.

A Lei de Deus é sábia de tal modo que faz das nossas complicações instrumento de proteção ao Espírito na medida em que por elas estamos presos a determinadas situações que promovem a transformação dos vícios em virtudes.

Aprendemos assim, sobre a necessidade de trabalharmos pelo Evangelho apesar de nossas dificuldades, pois elas se aceitas e compreendidas são sempre promotoras de espiritualidade.

24 Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós…

Coisas profundas de Satanás; são toda sorte de coisas que nos afastam de Deus. Podemos ver aqui filosofias que têm fachadas espiritualistas, mas que no fundo promovem o materialismo. São também as coisas que nos seduzem como o poder, a supervalorização dos recursos econômicos, a preocupação em demasia com a estética, com a beleza e a sensualidade, entre tantas outras coisas comuns em nosso tempo.

Os que se encontram nesta faixa são os que estão aprofundando sua queda moral.

Estes vós outros, os demais de Tiatira, que não têm essa doutrina e que não a conheceram, são os que têm ouvidos de ouvir o que o Cristo diz à intimidade da criatura. Estes não são mais sensibilizados pelas forças negativas da retaguarda, já transformaram a faixa mental em que se situam. Vivem no mundo, porém já sabem que não pertencem a ele, assim, dão a tudo o que é transitório importância relativa à sua necessidade momentânea.

Desta feita, deixam de evoluir pelos impactos da vida, e projetam-se numa faixa de crescimento consciente edificando um destino em bases de maior segurança, mesmo que à custa de lágrimas e dores. Entretanto, por serem conscientes do processo evolucional conseguem desatar os nós e exterminar as causas que geram contratempos e aflições.

Outra carga não jogarei sobre vós, é o que diz o texto se referindo a estes. Ou seja, não serão a estes acrescentadas nenhuma dor, já que eles estão sob as bênçãos do Senhor. Por terem um entendimento mais amplo, com discernimento espiritual, adotam o jugo de Jesus que é suave, fazendo com que o fardo se torne leve e mais propício a ser carregado, consoante a Misericórdia do Alto.

25 …tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha.

O que tendes; são as conquistas que já realizamos, as virtudes das quais já somos portadores.

Como conservá-las? Em se tratando de valores do Espírito, o única forma de retê-los é pela vivência dos mesmos. Só pela aplicação do Bem em nossa vida conseguimos fixá-lo como conquista.

Deste modo, se desejamos nos ver livres das armadilhas das trevas, a única forma é ter uma conduta nos padrões do Evangelho e mantê-la até que ela se torne conquista e passe a integrar a nossa personalidade.

Até que eu venha; trata-se da vinda segunda vinda de Jesus, que como temos repetido é o momento em que Ele passa a viver em nós. A primeira vinda do Cristo é Ele no plano exterior, como meta; buscamos vivenciá-lo através da disciplina. A segunda se dá quando o interiorizamos como conquista e o exteriorizamos através de nossas atitudes. Vivenciamos o Bem não mais por constrangimento, mas de forma espontânea.

Desta forma aprendemos que o trabalho é todo interior, não mais a necessidade de mudar o mundo ou as outras pessoas, mas mudar exclusivamente nós mesmos.

E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.11

26 Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações…

Ao vencedor; fórmula repetida nas outras cartas e por nós já comentada. Como o objetivo de Jesus é educar o Espírito imortal, vencedor é aquele que vence a si mesmo, as próprias deficiências. Sua vitória é diversa da do mundo, por isso Ele pôde afirmar:

eu venci o mundo.12

que guardar até ao fim as minhas obras; está é a formula da vitória segundo a ética do Cristo, guardar até o fim as Suas obras. Ele já havia dito:

Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.13

Como este era Seu objetivo, e também a meta finalística do Espírito, nos resgatar da morte para a Vida, morte obtida pela transgressão à Lei de Deus, torna-se deste modo imprescindível compreender e vivenciar esta orientação que significa manter-se na vivência de Seus ensinamentos. E o que de suma importância, até o fim.

Aqui lembramos de uma observação de Emmanuel ao seu tutelado Chico Xavier:

Começar uma tarefa cristã é fácil, continuar é difícil, chegar até o fim é crucificar-se.”14

Portanto, sabemos que não será fácil manter-nos numa conduta cristã até o fim, mas será necessário; os desafios serão grandes, mas deverão ser vencidos; está é a Mensagem da Cruz sem a qual não haverá ressurreição.

eu lhe darei autoridade sobre as nações. Na linguagem simbólica do Antigo Testamento Deus disse a Abraão:

Anda na minha presença e sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre mim e ti…

eis a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de nações.15

Aqui no Apocalipse é dito que aquele que guardar as obras do Cristo até o fim terá autoridade sobre as nações. Não é a mesma coisa?

O que guarda as obras do Cristo é o que se encontra na presença de Deus, e se assim fizer até o fim torna-se perfeito. Procedendo desta maneira ganha-se autoridade sobre as nações. Literalmente esta autoridade pode ser compreendida como o domínio de Israel sobre os gentios o que se daria com a vinda do Messias. No sentido espiritual temos aqui a autoridade moral conquistada quando se vence as próprias imperfeições tornando-se um Espírito redimido. Isto é o que nos faz capaz de realizações amplas.

Só esta é a verdadeira autoridade, a que ninguém tira por ser conquista da individualidade. Esta era a autoridade que Jesus tinha e que todos, inclusive seus adversários, admiravam:

E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina, porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas.16

Não podemos ainda esquecer que no Sermão do Monte o próprio Jesus nos diz que os mansos, isto é os humildes, são os que herdarão a terra17

27 e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; 28 assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.

Cetro é um bastão de comando próprio da autoridade real. Deste modo o símbolo que temos aqui é o de autoridade. Cetro de ferro dizendo da firmeza com que este poder será exercido. Não podemos esquecer que o Universo é acima de tudo Ordem, e um poder espiritual autêntico deverá mantê-la sob todos os aspectos. A verdadeira moral não pode fazer concessões com aquilo que lhe opõe. É o domínio do Espírito sobre a matéria. Esta se reduzirá como se fosse objeto de barro…

Neste passo é oportuno verificarmos alguns textos da Bíblia Hebraica.

Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.18

Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas e destruirá todos os filhos de Sete.19

Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!20

Não é nosso objetivo analisar cada texto deste, mas apenas mostrar como o poder sobre as nações e a estrela da manhã estavam associados.

Temos aqui claramente uma alusão ao poder do Messias, a estrela representando um sinal de Deus, um Rei Divino, no Apocalipse o próprio Jesus vai dizer ser Ele a Estrela da manhã21.

Deste modo, temos um poder que liberta, messiânico, este poder será dado a todos os vencedores, aos que se ajustarem e viverem o Cristo de forma plena, atendendo ao Seu Mandamento de amar como ele amou22, de dar de comer ao que tiver fome e de beber ao que tiver sede, de recolher o forasteiro e de vestir o nu23.

As nações pagãs serão reduzidas a pedaços como se fossem objetos de barro. Aqui não devemos ver a destruição de nenhum povo em sentido literal, mas da mentalidade pagã, hedonista e materialista que domina o ser humano até os dias de hoje.

É o Consolador, o Espírito de Verdade nos trazendo os recursos para vencermos o “príncipe deste mundo”24 em nome do Rei Messias que será Senhor de nossos corações. Por isso, como Ele recebeu do Seu Pai a estrela da manhã que é o poder de governar com a Verdade que liberta, Ele a dará a cada um de nós quando formos vencedores sobre o mundo das ilusões.

É a evolução se consumando e o Desígnio de Deus se cumprindo através de cada um de nós para a Glória do Pai.

Ouçamos na acústica de nossa alma o que o Filho de Deus tem a nos revelar:

29 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

1 Apocalipse, 2: 18 a 29

2 (Dicionário Bíblico Strong 2002)

3 Mateus, 10: 22 e referências.

4 Cf. I Reis, 16: 30 e 31

5 Mateus, 16: 6

6Habacuc, 2: 4

7Mateus, 5: 25 e 26

8 João, 5: 14

9 Marcos, 9: 42

10 Sabedoria, 1: 6

11 Romanos, 12: 2

12 João, 16: 33

13 João, 8: 51

14 SCHUBERT, Sueli Caldas. Testemunhos de Chico Xavier, 3ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. P. 247

15 Gênesis, 17: 2 e 4

16 Mateus, 7: 28 e 29

17 Mateus, 5: 5

18 Salmo, 2: 8 e 9

19 Números, 24: 17

20 Isaías, 14: 12

21 Apocalipse, 22: 16

22 João, 15: 12

23 Mateus, 25: 31 a 46

24 Cf. João, 16: 11