Tiago, 1: 6 a 8

e ela ser-lhe-á dada contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.

E ela ser-lhe-á dada contanto que peça com fé, sem duvidar; fé em grego é pistis, que entre outros significados quer dizer convicção. Convicção que expressa confiança e fidelidade. Portanto, dizer para se ter fé sem duvidar é algo redundante, pois o que tem fé não duvida jamais.

Porém é preciso compreendermos que a literatura evangélica usa destes artifícios para fortalecer o entendimento, às vezes repete, outras reforça, ou ainda, de outras vezes diz a mesma coisa de um modo diferente. É a didática de Jesus, para que todos entendam claramente.

O autor desta carta coloca como condicionante para receber sabedoria, que peça com fé, sem duvidar, porque na dinâmica universal tudo é dado conforme ele mesmo afirmou, generosamente, mas não gratuitamente. Há de se ter o esforço da conquista.

O saber intelectual, que é a sabedoria do mundo, é passado de pessoa a pessoa, uns transmitem-no aos outros; a sabedoria essencial, que é patrimônio inarredável do Espírito, não pode ser transmitida, ela é como a luz do sol, está disponível para todos, contudo, do mesmo modo que para perceber a claridade do astro rei é preciso abrir a janela de nossa residência, para recebermos a sabedoria é preciso realizar o esforço da fé operacional sintonizada com o Movimento Divino que vibra em toda a criação.

Assim, pedir com fé, sem duvidar, é aplicar os recursos que se tem, fixando-os como conquista, mesmo diante de toda sorte de dificuldades, perseverando. Os talentos bem gerenciados serão seguramente acrescidos de outros, esta aí a dinâmica da conquista de sabedoria.

porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento. Jesus ao falar de João Batista disse que ele não era uma cana agitada pelo vento.1 Referindo-se o Mestre à sua capacidade de constância, de fidelidade, de firmeza. Ele sabia que podia contar com o Batista.

João Batista representa exatamente aquele que já está pronto para mudar de paradigma, da ética da justiça para a do amor. Este que já se acha nesta condição, não é mais aquele de caráter volúvel, de duas faces, que ora age de um jeito ora de outro.

Paulo ao dizer deste estado ideal do discípulo, assim se expressa:

para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.2

Assim, se quisermos participar do banquete celestial que o Evangelho representa como alimento para as nossas almas, cultivemos a perseverança e a constância em seus princípios, entendendo-os e vivenciando-os. Não há espaço para aquele que duvida na seara do Senhor. O trabalho é amplo, mas os trabalhadores são poucos justamente por isso, o Senhor da Seara quer contar com aqueles que Ele sabe que estão preparados para o labor.

Neste sentido voltamos a versículo já comentado, só aquele que já teve sua fé provada, e que conquistou a perseverança, que aqui funciona como a “túnica nupcial” é digno de permanecer no banquete.

NÃO PENSE TAL PESSOA QUE VAI RECEBER ALGUMA COISA do SENHOR, DÚBIO E INCONSTANTE COMO É EM TUDO O QUE FAZ.

Não pense tal pessoa que vai receber alguma coisa do Senhor; o verbo receber não diz respeito àquele que doa, mas ao que acolhe. Deus é eternamente Doador. Jesus já ensinara, e seus discípulos da primeira hora já sabiam, que o Criador é em Sua essência, Amor.

Portanto, ele dá constantemente a todos, mas para que qualquer um de nós receba, é preciso entrar em comunhão com Ele. Sendo Deus imaterial, é constante, Nele não há variação. Assim, para entrarmos em Seu campo gravitacional, se é que podemos usar esta expressão em relação ao Criador, é preciso que também tenhamos o mínimo de constância exigido para a condição de filho consciente, ou seja, que saibamos o que queremos, que não estejamos divididos entre Deus e mamon, ou, entre os valores da alma e os do mundo.

Na nossa própria vida, mesmo em se tratando só deste momento reencarnatório, percebemos a presença da Providência a nos abastecer de todos os recursos necessários para que atinjamos os objetivos traçados pelo Alto, todavia, não é raro adentrarmos pelo caminho do inconformismo quando surgem pequenas dificuldades que como já vimos não passam de testes verificadores de nossa condição atual com vistas a possível promoção.

Dúbio e inconstante…; “dúbio e inconstante” aqui não quer dizer simplesmente alguém volúvel, mas aquele que está de alma divida, de interesses divididos, conforme expressa o grego dipsuchos; ou seja, aquele que ora vê os interesses de sua evolução espiritual, ora o dos interesses do mundo. Aquele que escolhe o que é mais conveniente para o momento.

Isto em nosso meio cristão é muito mais comum do que possa parecer. Em nossa própria intimidade estes dois caminhos se manifestam constantemente.

O cristão autêntico e verdadeiro, não é aquele que age consoante os ensinamentos do Senhor só no templo de sua fé, ou quando de encontro com os afins. A atitude renovadora do Evangelho tem que estar presente a toda hora, no trabalho, na escola, no lar, e principalmente quando estamos exercendo posições de destaque e de liderança nas atividades comuns.

Vemos assim que esta exigência, que hoje muitas vezes é tida como fanatismo, já era clara nos primeiros dias do cristianismo nascente. É que estes Espíritos que vieram auxiliar o Cristo na divulgação da Boa Nova, apesar de vestidos de homens rústicos e simples, tinham profundo conhecimento da psicologia humana e sabiam quais eram as fraquezas comuns que podiam desviar-nos do reto agir.

como é em tudo o que faz; não há como dissociar o que fazemos do que somos. Muitas vezes conseguimos enganar ajudados que somos pela falta de sentido mais amplo que é comum no plano material a que estamos provisoriamente ajustados. Todavia este engano vigora por pouco tempo, mais cedo ou mais tarde caímos do cavalo e a fantasia é removida.

Como nós, já espiritualistas, sabemos da continuidade da vida, e que esta tem por medida a eternidade, é justo que preocupemos com o que somos; mas lembremos que este ser é o somatório de tudo o que fazemos, nos mínimos detalhes. Assim, nos preocupemos em fazer o bem, mas também em fazer bem, movidos pelo sentimento agradável a Deus de bondade.

Manifestamos-nos deste modo, não por preciosismo, até porque o perfeccionismo na maioria das vezes atrasa o trabalho edificante, mas por saber que o interesse mundano ainda reina mesmo dentre os que divulgam a necessidade do serviço ao semelhante. A questão é de sutileza, mas é preciso ter o sentimento que estamos avançando, e avançando para a obra perfeita, aquela que o próprio missivista diz ser sem nenhuma deficiência.

Pois como nos lembra o apóstolo da gentilidade em várias de suas cartas, é ao Cristo que estamos servindo e a Ele tudo deve ser feito da melhor forma possível.

1 Cf. Mateus, 11: 7

2 Efésios, 4: 14