Prosperidade

23/07/2012 17:45

Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.1

Tem sido muito comum nos meios de divulgação evangélica, principalmente entre aqueles ligados a núcleos mais tradicionais do cristianismo, e mesmo entre outros de conotação espiritualista, a veiculação da ideia de que a vivência evangélica e a adesão à proposta de Jesus nos leva à prosperidade.

Com isto têm-se feito cultos e reuniões voltadas para este objetivo sendo ensinado que aquele que manifestar sua fé no Senhor e aderir à proposta da instituição divulgadora da mensagem, terá como prêmio o amplo sucesso em sua vida.

Terá base evangélica esta afirmativa? Será que podemos dizer que o Evangelho tem por objetivo a prosperidade de seu seguidor?

Para que possamos melhor dissertar sobre o assunto necessário se faz trabalharmos os conceitos adequados.

Prosperidade é segundo anotações do dicionarista estado do que é ou se torna próspero; grande produção de alimentos e bens de consumo; abundância, fartura, acúmulo de bens materiais; fortuna, riqueza.2

Próspero é por sua vez, aquele que tem êxito, que é bem-sucedido, afortunado, que acumulou riquezas, rico, abastado, ditoso, feliz, venturoso3.

Seriam estas as qualidades do ser evangelizado? Seriam estes os fins da prática cristã?

Avaliemos. No sentido aqui colocado, Jesus o personagem central do Evangelho, foi próspero?

Seus discípulos da primeira hora, entre eles Pedro, João, Tiago, Paulo de Tarso, Estevão, entre outros, também foram acumuladores de riquezas?

E outros discípulos que também lhe foram fiéis em outros tempos, como Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Xavier, foram estes também venturosos no que diz respeito às conquistas materiais?

Pensamos que não.

Mas e aí, seria o Evangelho contra a riqueza? Seria a mensagem de Jesus de caráter pessimista?

A questão não é essa, o Evangelho não é nem contra nem a favor da riqueza, pois a sua proposta é para o Espírito imortal, e não para o ser biológico que nasce, cresce e morre um dia. A mensagem do Evangelho é essencialmente otimista porque serve para que todos se redimam e tornem-se plenos diante da vida.

Para que compreendamos esta questão é preciso entender que Jesus dividiu o tempo em duas eras. Não estamos dizendo do calendário oficial que nos fala em antes e depois de Cristo, mas de algo muito mais profundo.

Antes do Cristo temos a era do homem biológico, o homem que tinha por objetivos maiores suprir todas as suas necessidades mais materiais. Assim, nesta fase ele luta por dinheiro, por poder, por conforto, prima pela estética, pela satisfação pessoal, pela educação intelectual, etc.. A mensagem do Cristo não é para este que vive de acordo com estes interesses. Jesus veio estabelecer entre nós a Era do Espírito. O homem espiritual candidata-se ao Reino, sua luta é para deixar de ser um ser humano para tornar-se um ser eminentemente espiritual.

A partir daí o que tem valor são as virtudes morais, as conquistas que não podem ser tomadas ou roubadas por ninguém. Neste plano têm-se não é do que se junta, mas do que se dá. É feliz não o que busca a sua própria felicidade ou o seu interesse pessoal, mas aquele que se sacrifica pelo interesse do outro.

A partir destas colocações, podemos pensar em vivenciar o Evangelho buscando satisfação pessoal?

É preciso que se compreenda que aqui não há meio termo, o cristão fiel aos ensinamentos de Jesus é aquele que primeiro se preocupa com o outro, e não com si próprio.

Expressões como “amar a si mesmo”, “autoestima”, “autovalorização”, entre outras da moderna psicologia, quando fomentadoras do egoísmo, são em verdade más interpretações das lições evangélicas, e pedra de tropeço para os cristãos desavisados.

Portanto é preciso avaliar que tipo de prosperidade buscamos, pois a verdadeira satisfação íntima da criatura está, na maioria das vezes, em proporção inversa às suas conquistas nos eventos do mundo.

Emmanuel com a sabedoria que lhe é peculiar, nos lembra:

Há muita gente acreditando, ainda, na Terra, que o Cristianismo seja uma panacéia como tantas para a salvação das almas.

Para essa casta de crentes, a vida humana é um processo de gozar o possível no corpo de carne, reservando-se a luz da fé para as ocasiões de sofrimento irremediável.

Há decadência na carne? Procura-se o aconchego dos templos.

Veio a morte de pessoas amadas? Ouve-se uma ou outra pregação que auxilie a descida de lágrimas momentâneas.

Há desastres? Dobram-se os joelhos, por alguns minutos, e aguarda-se a intervenção celeste.

Usa-se a oração, em momentos excepcionais, à maneira de pomada miraculosa, somente aconselhável à pele, em ocasiões de ferimento grave.

A maioria dos estudantes do Evangelho parecem esquecer que o Senhor se nos revelou como sendo o caminho...4

Sendo Jesus o Caminho, é preciso seguir pelo caminho traçado por Ele; e não foi Ele quem mais obedeceu entre nós? Não foi Ele quem mais serviu? Quem mais se sacrificou?

Lembremos ainda Emmanuel na mesma lição:

Cristãos que não aproveitam o caminho do Senhor para alcançarem a legítima prosperidade espiritual são criaturas voluntariamente condenadas à estagnação.

Aqui o grande mentor espiritual nos fala em prosperidade espiritual, esta sim a verdadeira prosperidade, pois baseada em conquistas morais superiores, patrimônio este que não pode ser tomado daquele que conquistou.

Portanto, entendamos que a abundância, a fartura, a fortuna que o Evangelho nos leva a possuir é a das efetivas conquistas do Espírito.

Até aí não há controvérsias, pois todo o seguidor dos ensinamentos de Jesus diz que quer mesmo é a promoção espiritual, porém é preciso que estejamos atentos para vermos como isto se dá.

Em texto trazido a nós pela mediunidade de nosso querido Chico Xavier, o Espírito Irmão X5 relata que Jesus sabe que há dois tipos de seguidores do seu Evangelho, um ele denomina de “seguidor de longe” e o outro de “discípulo de perto”.

Segundo o Mestre, o aprendiz de longe pode ora crer, ora descrer, abordando a verdade e esquecendo-a periodicamente; enquanto que o discípulo de perto empenha a própria vida permanecendo dia e noite na elevação dos testemunhos cristãos.

O de longe, continua o Sábio dos sábios, usa a liberdade para buscar honrarias e prazeres, misturando-os com as suas vagas esperanças do Reino de Deus, enquanto que o de perto sofre as angústias do serviço sacrificial e incessante. O de longe encoleriza-se, o de perto compreende e ajuda.

O de longe alega, muitas vezes, dificuldades até mesmo para se concentrar numa oração, experimentando sono e fadiga, quando o de perto caminha sem cansaço, em constante vigília.

Entre outras diferenças o Excelso Pastor ainda diz:

O de longe anseia possuir, enquanto o de perto tem prazer em dar sem recompensa, o de longe só encontra alegria na prosperidade material enquanto o de perto descobre a divina lição do sofrimento.

Assim é fácil compreender, há mesmo entre os profitentes da mais Bela Mensagem Espiritual de todas as eras, os que de longe anseiam somente pela satisfação imediatista caracterizada pela prosperidade do mundo, e os de perto que pacientemente mostram ter compreendido que o Reino da Felicidade não é deste mundo, sabendo da necessidade do sacrificar-se em favor do outro, e assim atingir a verdadeira prosperidade, que segundo Emmanuel, é a do Espírito imortal.

Para aqueles que ainda discordem de nossas considerações sugerimos a leitura da página A Lição da Cruz, do Espírito Osias Gonçalves, contida no capítulo 6 do Livro Instruções Psicofônicas, trazidas a nós pelo mesmo médium Chico Xavier.

No mais, muita prosperidade do Espírito para todos.

A Lição da Cruz

Osias Gonçalves

Meus irmãos:

Peçamos em nosso favor a bênção de Nosso Senhor Jesus-Cristo.

Nas recordações da noite de hoje, busquemos no Livro Sagrado a mensagem

de luz que nos comande as diretrizes.

Leiamos no Evangelho do Apóstolo João, no capítulo 12, versículo 32, a palavra

do Divino Mestre, quando anuncia aos seguidores:

«E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.»

Semelhante afirmativa foi pronunciada por ele, depois da entrada jubilosa em

Jerusalém.

Flores, alegria, triunfo.

Cabe-nos ponderar ainda que, nessa ocasião, o Embaixador Celestial havia

sido o Divino Médico dos corpos e das almas. Havia restaurado paralíticos, cegos e

leprosos, reconstituindo a esperança e a oportunidade de muitos... Estendera a

Boa-Nova e passara pela transfiguração do Tabor...

Entretanto, Jesus ainda se considera como Missionário não erguido da Terra.

Indubitavelmente, aludia ao gênero de testemunho com que o dilacerariam, mas

também ao sofrimento superado como acesso à vitória.

Reportava-se ao sacrifício como auréola da vida e destacava a cruz por símbolo

de espiritualidade e ressurreição.

Induzia-nos o Senhor a aceitar as aflições do mundo, como recursos de

soerguimento, e a receber nos pontos nevrálgicos do destino o ensejo de nossa

própria recuperação.

Ninguém passará incólume entre as vicissitudes da Terra.

Todos aí pagamos o tributo da experiência, do crescimento, do resgate, da

ascensão...

E arrojados ao pó do amolecimento moral, não atrairemos senão a piedade dos

transeuntes e o enxurro do caminho, sem encorajar o trabalho e o bom ânimo dos

outros, porque, de nós mesmos, teremos recusado a bênção da luta.

O Mestre, amoroso e decidido, ensinou-nos a usar o fracasso como chave de

elevação.

Traído pelos homens, utilizou-se de semelhante decepção para demonstrar

lealdade a Deus.

Atormentado, aproveitou a aflição para lecionar paciência e governo próprio.

Escarnecido, valeu-se da amargura íntima para exercer o perdão.

E, crucificado, fez da morte a revelação da vida eterna.

É imprescindível renunciar ao reconforto particular, para que a renovação nos

acolha.

Todos nos sentimos tranqüilos e sorridentes, diante do céu sem nuvens, mas se

a tempestade reponta, ameaçadora, eis que se nos desfazem as energias, qual se

nossa fé não passasse de movimento sem substância.

Acomodamo-nos com a satisfação e abominamos o obstáculo.

No entanto, não seremos levantados do mundo, ainda mesmo quando

estejamos no mundo fora do corpo físico, sem o triunfo sobre a nossa cruz, que, em

nosso caso, foi talhada por nossos próprios erros, perante a Lei.

É por isso que nesta noite, em que a serenidade de Jesus como que envolve a

Natureza toda, nesta hora em que o pensamento da coletividade cristã volve,

comovido, para a recuada Jerusalém, é natural estabeleçamos no próprio coração o

indispensável silêncio para ouvir a Mensagem do Evangelho que se agiganta nos

séculos...

«E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.»

Enquanto o Senhor evidenciava apenas o poder sublime de que se fazia

emissário, curando e consolando, poderia parecer um simples agente do Pai

Celestial, em socorro das criaturas; mas atendendo aos desígnios do Altíssimo, na

cruz da flagelação suprema, e confiando-se à renúncia total dos próprios desejos,

não obstante vilipendiado e aparentemente vencido, afirmou o valor soberano de

sua individualidade divina pela fidelidade ao seu ministério de amor universal e,

desde então, alçado ao madeiro, continua atraindo a si as almas e as nações.

Içado à ignomínia por imposição de todos nós que lhe constituímos a família

planetária, não denotou rebeldia, tristeza ou desânimo, encontrando, aliás, em

nossa debilidade, mais forte motivo para estender-nos o tesouro da caridade e do

perdão, passando, desde a cruz, não mais apenas a revigorar o corpo e a alma das

criaturas, mas principalmente a atraí-las para o Reino Divino, cuja construção foi

encetada e cujo acabamento está muito longe de terminar.

Assim sendo, quando erguidos pelo menos alguns milímetros da terra, através

das pequeninas cruzes de nossos deveres, junto aos nossos irmãos de Humanidade,

saibamos abençoar, ajudar, compreender, servir, aprender e progredir sempre.

Intranqüilidade, provação, sofrimento, são bases para que nos levantemos ao

encontro do Senhor.

Roguemos, desse modo, a ele nos acrescente a coragem de apagar o incêndio

da rebelião que nos retém prostrados no chão de nossas velhas fraquezas, retirando-

nos, enfim, do cativeiro à inferioridade para trazer ao nosso novo modo de ser

todos aqueles que convivem conosco, há milênios, aguardando de nossa alma o

apelo vivo do entendimento e do amor.

E, reunindo nossas súplicas numa só vibração de fé, esperemos que e.

Bondade Divina nos agasalhe e abençoe.


1 Mateus, 6: 33

2 Dicionário Houaiss

3 Idem

4 Vinha de Luz cap. 176

5 Livro Pontos e Contos cap. 10