Ajuda-te e o Céu te Ajudará

Pedi, e dar-se-vos -á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos -á.

Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre.

E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?

E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?

Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? .[1]

Pedi, e dar-se-vos -á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos -á.

Pedi, e dar-se-vos –á… - Jesus revela neste instante um dos componentes fundamentais da Lei Universal, componente este resumido na máxima: ajuda-te e o céu te ajudará. A extensão desta Verdade proferida pelo Mestre é maior ainda do que a da Lei de Causa e Efeito, porque tendo esta um caráter determinista segundo a Justiça, no pedi e dar-se-vos-á…, manifesta também a Misericórdia do Criador.

Quando Jesus afirma, ser necessário pedir, não está querendo Ele dizer, que devamos lembrar ao Pai aquilo que nos deve ser dado, como se Ele pudesse esquecer nossas necessidades. É que pedindo, se soubermos pedir, abrimos a porta de nosso interior para que a Força Cósmica, que é sempre presente, penetre, nos abastecendo e alimentando.

Deus está em tudo e em todos, o amor exalado por Ele é sempre atuante. É como o Sol em nosso planeta, por maior que seja a claridade gerada pelo grande astro, se mantivermos as janelas e as portas de nossa casa fechada, não sentimo-la; basta abrir um pouquinho que seja, uma mínima fresta, e ela – a claridade solar – penetra, revelando-nos toda sua beleza. O pedir é da mesma forma, abrindo-nos às nossas verdadeiras necessidades elas são imediatamente supridas por Aquele que é o Doador por Excelência.

 - buscai e encontrareis… - Jesus define a necessidade da ação em três planos. Pedir, buscar, bater. O pedir, é primeiro nível está relacionado com o desejo que manifesta em nosso ser. Só pedimos o que desejamos.

O buscar, está ligado ao plano do pensamento. Após desejar é preciso pensar, planejar, buscar recursos, para a realização propriamente dita, representada no bater.

Assim temos:

Pedir            -            desejar

Buscar         -            pensar

Bater           -            agir

Portanto, aprimorando-nos no serviço em nome do Cristo, torna-se necessário elaborarmos a nossa ação num plano consciente, trabalhando todos os ângulos da questão, procurando identificar em que área temos mais dificuldades; só assim, estaremos preparados para enfrentá-las realizando a parte que nos cabe na Criação.

…batei, e abrir-se-vos -á. - Conforme temos desenvolvido este estudo, esta é a terceira etapa da realização consciente, bater, isto é, agir. Se é importante projetar, planejar, é imperioso executar o que projetamos. O que dizer de uma edificação, que ficasse só na mesa de um arquiteto, não recebendo a importante colaboração de pedreiros e carpinteiros.

Deste modo, é imprescindível completarmos o ciclo, operarmos em favor do bem comum, realizar a nossa parte na Criação. Ao nos Criar, Deus simplesmente iniciou o processo criativo, coube a cada um fazer-se como é hoje, e terminar este processo nos conduzindo à meta final: a Perfeição. Obstáculos surgirão, elementos invigilantes tentarão nos desvirtuar, tendências negativas ainda não superadas poderão emergir; mas no instante exato surge o amparo; Ele, que é a Misericórdia feito visível, sempre está presente nos ensinando:

Vigiai e orai…[2]

Bem aventurados os que sofrem perseguição…[3]

Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo…[4]

Porque aquele que pede recebe; e o que busca encontra; e, ao que bate, se abre.

Porque aquele que pede recebe…- Porque aquele, isto é, todos que assim procederem. A Lei Divina não é parcial, funciona da mesma maneira para todos. Mas se é uma verdade que aquele que pede recebe, não podemos afirmar que recebe aquilo que pede, do modo que pede. A Providência sempre atende a cada um da forma que melhor atende  às necessidades do momento; por termos uma visão de pouco alcance, queremos isto, ou aquilo, mas a Sabedoria da Vida nos coloca sempre diante do que é melhor num plano de entendimento mais extenso, com vistas ao progresso necessário.

…e o que busca encontra.- Se pelo simples fato de pedir ou desejar já somos merecedores de atendimento, buscar é um passo adiante. Quando pensamos movimentamos energia, e esta seguindo seu curso natural, nos coloca muitas vezes até materialmente diante daquilo que buscamos. Conforme nos posicionamos mentalmente, abrimo-nos para o encontro na mesma faixa de sintonia, é a lei de afinidade; por ela atraímos e somos atraídos por elementos que encontram-se na mesma vibração. Como já dissemos, quando Jesus nos ensinava neste Iluminado Sermão, nos revelava significativa Lei que rege tudo no Universo.

…e, ao que bate, se abre – A ação vem sempre após desejarmos e idealizarmos; desta forma, somos mais responsáveis quando agimos, por ser esta, fruto de uma maior elaboração. Espíritos milenares que somos, muitas vezes na faixa do desejo situa-se o que trabalhamos em encarnações anteriores; este desejo, se não direcionado por caminhos diferentes, ganha a área mental, e consequentemente, plasma-se nas ações.

Quando o Espírito atinge níveis evolutivos mais adiantados, espiritualmente falando, do que aquele em que se encontrava, trava-se importante luta no campo mental. Deseja-se segundo o que era, mas a consciência atual o leva a idealizar novos posicionamentos, e, consequentemente, a agir de forma mais conveniente, conforme suas necessidades evolutivas. Assim, podemos dizer, que a ação daquele que quer renovar-se moralmente é fruto desta luta íntima, luta que se bem administrada leva o Ser ao progresso; caso contrário, o conduz a repetições não desejadas pela Consciência Profunda, que é Deus em nós.

Deste modo, seguindo orientação Daquele que é o Pastor Divino por excelência, somos levados a considerar sempre a necessidade de vigilância, para que nossa vontade renovada nos indique novas portas a batermos, porque como Ele mesmo nos ensinou, ao que bate, se abre.

E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?

E qual dentre vós é o homem… - O homem, como conseqüência da Lei do Progresso a que tudo no Universo está sujeito, situa-se em condições adiantadas dentro deste processo. O Espírito, já tendo estagiado nos diversos reinos inferiores da Criação, acha-se neste instante em condições de realizar sua evolução de forma consciente; trabalhando os recursos que a Providência o outorgou.

Jesus ao usar o homem como instrumento didático, quer facilitar a compreensão, levando-nos a pensar sobre o que já temos condição de realizar dentro da faixa em que nos situamos.

Está pergunta lançada pelo Mestre: E qual dentre vós é o homem…? Projeta-nos a uma tomada de consciência das nossas verdadeiras responsabilidades. Possuidores dos “talentos”, razão e sentimento, temos que adequadamente trabalhá-los em favor de um desenvolvimento melhor e mais humano de toda a comunidade a que estamos vinculados. Seja por um sentimento nobre já bem desenvolvido, ou por boa noção de responsabilidade, cuidamos daqueles elementos que a Vida colocou em nosso caminho, diligenciando por obter recursos de forma a tornarem melhores e mais seguras as suas existências.

A proposta Cristã é justamente esta, nos desafiar através de uma melhor compreensão dos desígnios Divinos. Ao ensinar que somos todos irmãos, Ele mostra, que cabe a cada um de nós, trabalhar por aumentar o quadro da nossa família; dando a todos o que possuímos de melhor, e assim, ajustarmo-nos melhor dentro das Leis criadas pelo Todo Sábio.

…que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? – Se pela Lei de Justiça somos determinados a dar a cada um o que é seu, o atendimento à Lei de Amor, nos leva a oferecer a cada um, espontaneamente, algo acima de seus merecimentos.

O filho, é a representação do grau maior de amor que já conquistamos. Assim, quando estes a quem dedicamos todo o nosso carinho nos pedem algo, sempre lhe ofertamos o de melhor, se possível, até além do que foi pedido.

Ao dizer filho no singular, Jesus nos mostra que quando agimos com este nobre sentimento, damos a cada um atenção individual, diferenciando-o dos demais; é como o atendimento da Vida a cada um de nós, tudo em particular, a cada um segundo as suas necessidades. Da mesma forma devemos agir com todos. Fazendo dos mais necessitados, filhos do coração, damos mostra de perfeito entendimento dos ensinos evangélicos.

O pão, simboliza o alimento necessário ao Espírito, seja físico ou espiritual; quando um filho pede pão, jamais damos pedra, que apesar de ter sua importância dentro do contexto da vida, em termos de nutrição para nada serve. Assim, sendo pedido algo útil, nunca damos a quem amamos, o que não tem utilidade.

E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?

E, pedindo-lhe peixe… - O peixe é um animal que tem como habitat a água. Sendo o nosso corpo físico formado em 70% por este valioso líquido; tendo o Espírito em sua primeira fase de encarnação o líquido amniótico a envolvê-lo; e conforme observação de Emmanuel, de que as primeiras formas de seres vivos na Terra encontraram na água a condição necessária ao desenvolvimento da própria existência[5]; podemos interpretar peixe como sendo os recursos necessários à vida, não só a nível de alimento, mas como aqueles outros necessários ao bem viver.

Assim, entendemos como necessidade de todo Cristão, ser provedor de condições favoráveis ao bom desenvolvimento da vida, para todos aqueles que nos circundam. Pois conforme Ele mesmo ensinou:

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.[6]

…lhe dará uma serpente? – A serpente é um animal caracterizado pelo veneno. Assim, enquanto o peixe simboliza a vida, a serpente significa morte. O peixe, pela sua mobilidade, representa também a liberdade tão desejada pelo Espírito; enquanto a serpente pela dificuldade de locomoção, a ausência dela. Desta forma, mais uma vez Jesus nos dá o exemplo da sua excelente didática, através de comparações, usando de elementos de fácil compreensão para aqueles que o ouviam, nos falava de verdades profundas a dirigir-nos no plano da alma.

Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?

Se, vós, pois, sendo maus… - O pronome vós, na segunda pessoa do plural, refere-se não só àqueles que ali estavam presentes, mas a todos, que em todas as épocas estivessem no mesmo nível evolutivo.

Somos ainda muito pouco adiantados para receber o título do bons, qualificação esta que nem Ele mesmo, Jesus, aceitou.

Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus.[7]

Na maioria das vezes, quando fazemos o bem é por interesse. É imperioso termos o amor como móvel de nossas ações, só assim seremos capazes de realizar, com o necessário desinteresse que caracterizam as Grandes Almas. Assim, o adjetivo maus aqui usado, não é em condição definitiva, mas estágio a ser superado pelo próprio crescimento espiritual.

… sabeis dar boas coisas aos vossos filhos… - Ao fazer esta afirmação, o Mestre aumenta-nos a responsabilidade com relação à educação daqueles que nos são confiados como filhos. Sabeis, é o verbo no presente, desta forma, Jesus nos mostra que já fazemos deste modo. Portanto, como já temos ciência da finalidade da vida, e também conhecemos princípios de moral que devem nortear-nos os passos, é imperativo que analisemos melhor a expressão boas coisas. Temos procurado dar o de melhor aos nossos filhos, mas só em um sentido: casa confortável, destaque social, melhor vestimenta etc., quando torna-se urgente ocuparmo-nos também com tudo o que possa representar melhor condição e educação espiritual para aqueles a quem temos a felicidade de ter nesta condição; mesmo que isto signifique, muitas vezes, dificuldades. É que estas, têm a faculdade de despertá-los para realidades não tangíveis, mas de suma importância. O pronome vossos antecedendo ao termo filhos, nos fala do filho de cada um, conforme responsabilidade individual; e ai daquele que escandalizar um destes pequeninos…[8]

…quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? - Se um pai da terra, dá o de melhor à seu filho, o que dizer de Deus que é o vosso Pai, que estás nos céus?

Vosso, porque é de cada um, conforme entendimento individual. Se para uns é Senhor dos Exércitos, para outros é Infinita Misericórdia; mas é sempre Pai, e está nos céus, isto é, onde o vigora o bem, onde fala mais alto a harmonia e o Amor; e dará, porque Deus é a causa de tudo, é o Supremo Doador; bens, os bens verdadeiros, os que fazem bem para a economia do ser integral; aos que lhe pedirem, ou seja, a todos que pela humildade reconhecerem-se necessitados, e ajustando-se às Suas Leis, tornarem-se receptivos.



[1] Mateus, 7: 7 a 11

[2] Marcos, 14: 38

[3] Mateus, 5: 10

[4] Mateus, 24: 13

[5] Ver A Caminho da Luz cap. II págs. 26 e 27

[6] João, 13: 35

[7] Lucas, 18: 19

[8] Mateus, 18: 6