O Endemoninhado Gadareno

 

O Endemoninhado Gadareno

 

O ENDEMONINHADO GADARENO

(Extraído do livro Jesus Terapeuta )

E, tendo chegado à outra banda, à província dos gergesenos, saíram-lhe ao encontro dois endemoninhados, vindos dos sepulcros; tão ferozes eram, que ninguém podia passar por aquele caminho.

E eis que clamaram, dizendo: Que temos nós contigo, Jesus, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?

E andava pastando distante deles uma manada de muitos porcos.

E os demônios rogaram-lhe, dizendo: Se nos expulsas, permite-nos que entremos naquela manada de porcos.

E ele lhes disse: Ide. E, saindo eles, se introduziram na manada dos porcos; e eis que toda aquela manada de porcos se precipitou no mar por um despenhadeiro, e morreram nas águas.

Os porqueiros fugiram e, chegando à cidade, divulgaram tudo o que acontecera aos endemoninhados.

E eis que toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus, e, vendo -o, rogaram-lhe que se retirasse do seu território.1

 

E chegaram à outra margem do mar, à província dos gadarenos.

E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo,

O qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender.

Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões, em migalhas, e ninguém o podia amansar.

E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras.

E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou -o.

E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.

(Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.)

E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos.

E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província.

E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos.

E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles.

E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar.

E os que apascentavam os porcos fugiram e o anunciaram na cidade e nos campos; e saíram muitos a ver o que era aquilo que tinha acontecido.

E foram ter com Jesus, e viram o endemoninhado, o que tivera a legião, assentado, vestido e em perfeito juízo, e temeram.

E os que aquilo tinham visto contaram-lhes o que acontecera ao endemoninhado e acerca dos porcos.

E começaram a rogar-lhe que saísse do seu território.

E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele.

Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti.

E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam2

E navegaram para a terra dos gadarenos, que está defronte da Galiléia.

E, quando desceu para terra, saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.

E, quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo com alta voz: Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço-te que não me atormentes.

Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem; pois já havia muito tempo que o arrebatava. E guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.

E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.

E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo.

E andava pastando ali no monte uma manada de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho.

E, tendo saído os demônios do homem, entraram nos porcos, e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se.

E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.

E saíram a ver o que tinha acontecido e vieram ter com Jesus. Acharam, então, o homem de quem haviam saído os demônios, vestido e em seu juízo, assentado aos pés de Jesus; e temeram.

E os que tinham visto contaram-lhes também como fora salvo aquele endemoninhado.

E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles, porque estavam possuídos de grande temor. E, entrando ele no barco, voltou.

E aquele homem de quem haviam saído os demônios rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo:

Torna para tua casa e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito.3

 

E NAVEGARAM PARA A TERRA DOS GADARENOS, QUE ESTÁ DEFRONTE DA GALILÉIA.

E navegaram para a terra dos gadarenos que está defronte da Galiléia - Gadarenos ou gerasenos, era o nome dado aos naturais, ou habitantes da Gadara, que o historiador Josefo diz ser a metrópole da Peréia, cidade grega, opulenta e rica.4

Há muita polêmica sobre onde se deu realmente este acontecimento, alguns comentaristas preferem o termo geraseno referindo-se aos habitantes de Gerasa situada na Decápolis

O termo gergesenos, constante do evangelho de Mateus, segundo algumas versões, foi introduzido por Orígenes, porque acreditava este, que a cidade em que se deu tal passagem seria outra, cujo o nome era Gergesa.

O Espírito Amélia Rodrigues, conforme a psicografia de Divaldo Pereira Franco, nos fala em Gerasa, nos dando importantes características desta região. Segundo sua informação, o solo desta província era ingrato onde nada medra, à exceção de espinheiros e cardos silvestres5; sua economia se destacava pelo comércio de porcos.

Decápolis era um distrito que continha dez cidades, entre elas Gadara e Gerasa. Era povoada por gregos após a conquista de Alexandre.

Jesus e os discípulos se dirigiram a esta região, nos ensinando que o “mar da vida”, muitas vezes nos leva anavegar por terras áridas, onde corações endurecidos não entendem a noção de espiritualidade que trazemos.

Ele, o Mestre dos mestres, tinha por missão divulgar a verdade do Reino a todas as criaturas; portanto, não perdia a oportunidade de estar sempre semeando, mesmo sabendo que muitas sementes caindo nos pedregais, o Sol iria queimá-las. Tempo viria em que as terras improdutivas seriam fertilizadas pela dor, e aí então, aquelas sementes, que são imortais, produziriam frutos dignos de servirem de alimento a todos.

Assim, devemos nós também fazer, afinal foi Ele quem disse:

Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura.6 …Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado…7

E, QUANDO DESCEU PARA TERRA, SAIU-LHE AO ENCONTRO, VINDO DA CIDADE, UM HOMEM QUE, DESDE MUITO TEMPO, ESTAVA POSSESSO DE DEMÔNIOS E NÃO ANDAVA VESTIDO NEM HABITAVA EM QUALQUER CASA, MAS NOS SEPULCROS.

E, quando desceu para terra… - A divulgação doutrinária tem sido a nossa preocupação a todo instante. Para que tal objetivo se dê, reuniões e estudos visando o melhor entendimento do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo têm sido incentivados em todo o movimento Espírita; desta forma, temos não só compreendido melhor as Leis Morais que regem o Universo, como também, aumentado a nossa capacidade de vibrar em sintonia com as Forças Criativas da Espiritualidade. As questões da Imortalidade da Alma, da Reencarnação, da Mediunidade, da Lei de Evolução têm sido bastante discutidas entre todos, e isto é muito bom, pois abre perspectivas de caminhada mais segura.

Se estar entre os afins é algo gratificante; se elevar-nos através da discussão de filosofia sadia é sempre proveitoso; não podemos deixar de seguir o exemplo do Mestre, que desceu para a terra… mostrando-nos a necessidade de atuarmos em favor do próximo, junto dele; estarmos entre os desafetos aumentando a nossa capacidade de compreensão; auxiliar não só os que nos alegram com as respostas positivas, mas principalmente os que têm dificuldades a serem superadas. Afinal, foi Ele mesmo quem disse:

Os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.8

saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade… - Sair ao encontro de Jesus é a atitude necessária; afinal, são os Espíritos Superiores quem afirmam ser Ele, o Guia e Modelo da Humanidade9. Entretanto, como tudo na vida, é imperioso avaliar a maneira em que este ir-Lhe ao encontro se dá. Pois podemos buscá-Lo com o coração aberto a fim de segui-lo, ou para rechaçá-lo através de nossas posturas anticristãs.

cidade é onde moramos. Se nela encontramos os recursos necessários ao nosso bem viver, é também onde nos defrontamos com os desafetos, com situações não resolvidas, com sentimentos que despertam em nós tendências e imperfeições a serem superadas. Portanto, ao entrarmos na cidade, ao tomarmos contato com o centro dos interesses que salteiam o nosso íntimo, tomemos cuidado com o que pode vir de lá; não esqueçamos a lição anotada pelo evangelista que diz:

Olhai, vigiai e orai, porque não sabeis quando chegará o tempo.10

um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios… - Entre os enormes bens feitos à Humanidade pela Doutrina Espírita, está o melhor entendimento do vocábulo demônio. Antes do aparecimento desta, o termo demônio era entendido como seres vinculados eternamente ao mal. Por terem se revoltado contra o Criador, tornaram-se rivais Deste, e o que é pior, para todo sempre. Assim, aqueles que eram apanhados por estes diabólicos seres, perdiam a condição de filhos de Deus, e passavam também a fazer parte da sociedade eterna do mal.

Com o esclarecimento trazido pelos Espíritos Codificadores, passamos a ver nestes infelizes seres, apenas Espíritos que, afastados provisoriamente do Bem, tentam perverter a Ordem do Universo; mas que na medida em que forem crescendo em sabedoria e verdade, vão se desvinculando do mal e se libertando no Bem, que por excelência, é o fim de todos.

Há homens que estão vinculados a ideias enganosas, devemos nos acautelar destes; mas há outros que estão muito mais comprometidos com a desordem – desde muito tempo -, estes são mais perigosos ainda. É sobre um destes que a narrativa evangélica nos fala: um homem que, desde muito tempo, estava possesso de demônios.

A expressão desde muito tempo, nos fala do comprometimento daquele homem com seus obsessores; pois este processo que muitas vezes se inicia simples, agrava-se com o decorrer do tempo.

Hoje é um pingo de sombra, amanhã linha firme, para, depois, fazer-se um painel vigoroso…11

É importante notar ainda, que aquele homem estava, segundo os registros do evangelista, possesso de demônios, ou seja, de muitos.

O termo possesso, do latim possessu, quer dizer possuído. Este tipo de obsessão é qualificada como uma das mais graves que podem acontecer a qualquer um de nós; ela é estudada por Kardec no Livro dos Médiuns sob o nome de subjugação. O iluminado Codificador do Espiritismo prefere esta palavra para definir tal anomalia, por achar que ela explica melhor o acontecimento, mas no fundo querem dizer a mesma coisa, conforme demonstra André Luiz no capítulo 9 do livro Nos Domínios da Mediunidade.

Segundo o Dr. Osvaldo Hely Moreira, a subjugação é um quadro mais grave, pois o obsessor tem um conhecimento técnico mais avançado, dominando assim o cérebro do encarnado.12

e não andava vestido. – Uma das características deste grave processo obsessivo é a perda por parte do encarnado do controle de suas ações. Este enfermo, que ora estudamos, já tinha perdido a noção do real, poisnão andava vestido.

O vestido ou veste, é a nossa proteção exterior; define a nossa aparência. Com o agravamento da influenciação espiritual, ficamos desprotegidos, porque já não é a nossa vontade que comanda e sim a do desencarnado; nossa aparência muda pois reflete nossa desorganização mental. Não andar vestido da vigilância que se faz necessária, nos leva a situações que podem inclusive nos desarmonizar fisicamente, pois a atuação do Espírito pode enfraquecer-nos fisicamente atrapalhando o nosso sistema imunológico, sendo assim caminho para enfermidades piores.

nem habitava em qualquer casa… - Tal situação é ainda mais grave; não habitar qualquer casa, é perder por completo a referência, é estar totalmente sem identidade.

Jesus ao nos ensinar a orar, recomendou que entrássemos em nosso aposento íntimo e em silêncio nos dirigíssemos ao Pai; não habitar em qualquer casa, é perder esta sintonia com o eu profundo, com o Deus em nós.

mas nos sepulcros. – Há Espíritos que, em desencarnando ficam ainda presos ao mundo físico ignorando o que lhes está acontecendo; há outros, ainda piores, que necessitando de fluidos mais materializados, vampirizam elementos recém desencarnados em busca da vitalidade destes.

André Luiz relata um caso destes no livro Obreiros da Vida Eterna, nos fazendo a seguinte observação:

não pude sofrear o espanto que me tomou o coração. As grades da necrópole estavam cheias de gente da esfera invisível, em gritaria ensurdecedora. Verdadeira concentração de vagabundos sem corpo físico apinhava-se à porta. Endereçavam ditérios e piadas à longa fila de amigos do morto…

ante a minha estranheza, Hipólito considerou:

- Não é para admirar. O Evangelho, descrevendo o encontro de Jesus com endemoninhados, refere-se a Espíritos perturbados que habitam entre os sepulcros.

Nos cemitérios costuma congregar-se compacta fileira de malfeitores, atacando vísceras cadavéricas, para subtrair-lhes resíduos vitais.13

Desta forma, notamos a realidade da existência destes Espíritos, e que mais uma vez a Doutrina Espírita nos auxilia na compreensão do Evangelho; este enfermo atendido por Jesus, não era mais do que um obsidiado, segundo a linguagem Espírita; o os obsessores, ao invés de serem almas eternamente perdidas, eram espíritos desencarnados que ainda não teriam encontrado o caminho do Bem.

Não podemos deixar de citar ainda, os “mortos espirituais”. Sendo vida, o dom dado por Deus à criatura, morte é tudo o que contraria a Vontade do Todo Sábio. Assim, toda vez que alguém contraria a vontade Deus por causa do “pecado”, acha-se morto espiritualmente falando. São estes, verdadeiros sepulcros ambulantes, os que mais devem ter cuidado, pois o Evangelho é claro:

e não andava vestido nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros.

E, QUANDO VIU A JESUS, PROSTROU-SE DIANTE DELE, EXCLAMANDO E DIZENDO COM ALTA VOZ: QUE TENHO EU CONTIGO JESUS, FILHO DO DEUS ALTÍSSIMO? PEÇO-TE QUE NÃO ME ATORMENTES.

E, quando viu a Jesus… - O Bem existe desde toda eternidade; sendo Deus Amor, e não podendo Ele contradizer-se, toda Sua Obra é também Amor.

Iniciando seu processo evolutiva na condição de simples e ignorante, mas possuindo em si a semente da perfeição, o Espírito retrata a Beleza do Criador; porém, devido à necessidade de aprender através da experiência, muitas vezes encaminha-se pelo erro, quando, deixando de atuar conforme as Leis Superiores afasta-se do Todo Sábio.

Se este afastamento é breve, retornando logo à Rota Divina, o Espírito não cria complicações maiores; entretanto, se ao invés de reconhecer o erro, aprofunda o distanciamento, motivado pela rebeldia ou pela própria invigilância, gera para si próprio, o mal. Acontece que, por ser centelha divina, e sendo a evolução Lei natural, este distanciar-se de Deus tem um limite, que quando atingido leva o ser à saturação, e consequentemente, ao retorno ao Amoroso Colo Paterno.

É neste instante que, mudando o olhar de direção, passa a ver Jesus, que por ser a maior expressão do Amor de Deus, está sempre ao lado de todos.

Mas para que essa visão se dê de uma forma positiva, e possamos enxergá-Lo como meio de nos redimirmos, é necessário a sintonia com o Eterno, através do trabalho incessante pelo bem comum.

Saulo, após perseguir o Cristo, viu-O no caminho de Damasco, e transformou-se pelo serviço.

Maria de Magdala, após complicado processo obsessivo, também viu-O, mudando sua atitude e libertando-se das trevas.

Zaqueau elevou-se acima da multidão, e através do desapego, não só viu o Cristo, como também hospedou-O em sua morada.

E nós, por qual processo dilataremos a visão? Pela dor, ou pelo amor? Eis as opções…

prostrou-se diante dele, exclamando e dizendo com alta voz… - A expressão prostrou-se diante dele, tem por significado caiu-lhe aos pés.

Esta atitude do obsedado foi devido à perplexidade do obsessor, que sentindo toda a grandeza de Jesus, viu-se sem ação. Tal fato se deu, porque os Espíritos têm muito mais capacidade de perceber a realidade espiritual de quem quer que seja, e em se tratando Dele, o Construtor do planeta Terra, foi ofuscado por Sua esplendorosa luz.

Este posicionamento do infeliz Espírito traz para nós precioso ensinamento: não adianta reconhecermos no Cristo a Sua superioridade, a beleza de Sua doutrina, o Mestre maior, se não dispusermos a colocar em prática os seus ensinamentos. O obsessor de Gadara, também viu Nele toda a Superioridade de Espírito de Escol, mas e daí, o que fez para melhorar sua condição espiritual?

Do mesmo modo, nós, reconhecidos cristãos que somos, ou divulgadores de quaisquer religião; de que adianta andar com o Evangelho nos lábios, se não o colocarmos em nosso coração?

Ele, o Gadareno, exclamando e dizendo com alta voz, expressou todo o seu sentimento inferior ao encontrar o Mestre; meditemos como tem sido o nosso encontro com Ele, e busquemo-nos melhorar a cada instante.

Que tenho eu contigo Jesus, Filho do Deus Altíssimo? – O termo Deus Altíssimo era usado pelos hebreus para diferenciar o Deus de sua raça, dos deuses dos pagãos. Ao se expressar desta forma, o obsessor mostra ser conhecedor das questões espirituais, e que, provavelmente era, quando encarnado, pertencente a este povo; pois vê no Filho de Maria, o Messias Salvador, reconhecendo, portanto, Sua natureza Espiritual.

Que tenho eu contigo…? Ainda não era chegado a hora, apesar do desenvolvimento intelectual, ele ainda não tinha despertado em seu íntimo os valores ligados ao sentimento; sabia, mas não queria agir de forma coerente com o seu conhecimento.

Como confirmação desta idéia, citamos as palavras usadas por Mateus para narrar este acontecimento:

Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?14

Ou seja, o fruto não estava preparado; era preciso tempo para que ele amadurecesse.

Outra observação que podemos fazer relativo a estas palavras usadas pelo evangelista, é quanto ao débito do encarnado diante do processo obsessivo.

Sendo Deus Justiça Absoluta, tudo que nos acontece tem a sua razão de ser; portanto, se passava o Gadareno por este processo, é que se dava o cumprimento de uma lei que permitia a vinculação obsessiva entre ele e o Espírito,pois somente há obsidiados porque há endividados espirituais.15

… é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!16

Peço-te que não me atormentes. – O verbo “atormentar” é sinônimo de incomodar. Diante do conhecimento por nós adquirido, poderíamos inquirir: Como pode Jesus, o Sol que ilumina nossa alma, incomodar a quem quer que seja?

Mas se avaliarmos com sinceridade, vamos notar que tal ocorrência é verídica; pois quantas vezes gostaríamos de agir de uma maneira, e a consciência cristã nos faz realizar de outra, mesmo contrariando nossas tendências?

Ao analisar por este ângulo, entendemos que a presença do Cristo em nós sempre atormenta o homem velho que reside em nosso íntimo; homem este, responsável pelos hábitos e tendências negativas de cada um. Porém, notamos que este incômodo é altamente positivo, pois é indutor de crescimento e progresso espiritual.

Desta forma, compreendamos melhor a situação, e quando a Boa Nova, agindo em nós, nos levar ao sacrifício de nossas mazelas, não façamos como o infeliz obsessor de Gadara, pois foi Ele mesmo, o Pastor Divino, quem asseverou:

Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada…17

PORQUE TINHA ORDENADO AO ESPÍRITO IMUNDO QUE SAÍSSE DAQUELE HOMEM; POIS JÁ HAVIA MUITO TEMPO QUE O ARREBATAVA. E GUARDAVAM-NO PRESO COM GRILHÕES E CADEIAS; MAS, QUEBRANDO AS PRISÕES, ERA IMPELIDO PELO DEMÔNIO PARA OS DESERTOS.

Porque tinha ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem… - Jesus com a Sua sensibilidade superlativa, tinha logo percebido, que diante dele não estava um doente comum, mas um obsidiado, segundo o linguajar Espírita.

Para cada caso, o Médico Maior, tinha o tratamento adequado. Neste que ora estudamos, por tratar de influenciação espiritual, não repreendeu o enfermo, e sim seus seguidores espirituais- espírito imundo -; e por conhecer-lhes a índole, agiu de forma imperativa, conforme depreendemos do uso da expressão verbal: tinha ordenado…

De nossa parte devemos ter cautela ao agirmos deste modo, pois para dar ordens é preciso ter autoridade, e principalmente quando se trata de Espíritos, a quem não podemos enganar com as máscaras costumeiras. Porém com Jesus é diferente, Ele tem autoridade total, podendo assim agir com segurança.

Do ponto de vista de nossa intimidade, podemos dizer que o processo é o mesmo. Portanto, é imperioso nos fortalecermos no Bem através da vivência cristã, para que, adquirindo domínio sobre as nossas próprias imperfeições, possamos repreendê-las, expulsando-as de nossa personalidade.

O verbo “sair” conforme usado pelo evangelista- que saísse daquele homem…, não expressa bem a mecânica do processo desobsessivo, pois a Doutrina Espírita nos alerta que o Espírito não entra no corpo do elemento encarnado, e sim, que através da sintonia, controla-lhe as ações pelo domínio das funções cerebrais. Porém, devido à ignorância do povo daquela época, esta foi a melhor maneira de dizer sobre o perigo de nossas companhias invisíveis, alertando assim, para a necessidade de constante vigilância.

pois já havia muito tempo que o arrebatava… - Arrebatar é tirar por força ou violência; roubar; privar de; ou ainda, arrastar.

Esta sentença vem confirmar o alto grau de envolvimento existente entre a vítima e seu algoz - se é que é justo nos expressarmos desta forma - pois o Espírito violentando o encarnado, arrastava-o a situações difíceis, privando-o da própria identidade.

Esta situação, conforme já analisamos no versículo 27, e que aqui se repete, já perdurava por muito tempo. Por isto Jesus usando de sua autoridade, ordena ao Espírito que se afaste, dando oportunidade àquele que sofria sua influência, de reequilibrar-se.

Para tudo há um tempo determinado. Aprendemos deste modo, que não há mal que perdure mais do que o necessário; assim, se algo nos priva de situações mais agradáveis, devemos cultivar a paciência e a compreensão, para que no momento oportuno, possamos nos desvincular do incômodo sem gerar transtornos maiores. …pois já havia muito tempo que o arrebatava, entretanto, chegado o momento, o Cristo aparece e restabelece a paz de que todos nós somos por natureza merecedores.

E guardavam-no preso com grilhões e cadeias… - A questão da liberdade tem sido tema de muitas discussões em todas as épocas por que passou a humanidade. Ela é, de todos nós o anseio maior. Seja liberdade de ir e vir, de expressão, ou simplesmente de fazer o que dá prazer, todos lutamos ardentemente por ela.

O livre arbítrio é patrimônio do Espírito imortal, mas não podemos esquecer, que a ele está ligado intimamente o determinismo. Isto é, sendo a máxima a cada um segundo as suas obras, Lei Universal; após qualquer ação motivada pela livre escolha, vinculamos como necessidade maior, uma reação de conformidade com a qualidade da atitude inicial.

Assim, ao buscar a libertação, nem sempre conseguimos, pois buscamo-la na maioria das vezes de forma inadequada.

No mundo em que vivemos, o poder e o dinheiro, têm sido a tônica de nossos desejos, porque achamos encontrar nestes, o passo definitivo para a tão sonhada liberdade. Triste engano, visto que os recursos transitórios, na maioria das vezes, ao invés de libertadores, são altamente escravizantes; pois quanto mais obtemos posses, mais a elas ficamos agrilhoados.

O Evangelho deve ser por nós meditado, mas não segundo a letra que mata, e sim conforme o seu sentido espiritual que dá a vida.

O Gadareno tinha um terrível verdugo, e graças a ele, guardavam-no preso com grilhões e cadeias…Hoje, somos vítimas de modernos obsessores, que sob os nomes de poder, posse, presunção, orgulho e vaidade, nos escravizam de forma mais sutil; mas será que estamos menos presos do que ele? Serão mais amenos os nossosgrilhões e cadeias?

mas, quebrando as prisões, era impelido pelo demônio para os desertos. – A Vida nos prende, para melhor nos libertar. Muitas vezes somos colocados diante de determinadas situações, que apesar de cerceadoras a princípio, são na realidade altamente libertadoras, à medida que nos põem frente a frente com pendências criadas por nós mesmos, dando-nos a oportunidade de equacioná-las de forma devida.

Acontece que, invigilantes que somos, quando impelido pelo demônio – que externamente podem ser Espíritos querendo nos derrubar; ou internamente, nossas próprias deficiências – quebramos estas benditas prisões, nos encaminhando para o deserto, esquecendo as orientações do Sublime Condutor de Almas quando nos disse:

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos seus membros do que seja todo o seu corpo lançado no inferno.18

deserto é região árida por natureza. Significa assim, momentos de grande escassez e sofrimento. Isto quer dizer que, quando guiados pelos interesses exclusivamente imediatistas, estamos naturalmente sujeitos a toda sorte de carências. É que retendo mais do que necessitamos, automaticamente privamos alguém do que é dele, recebendo em futuro próximo a escassez que determinamos com o nosso modo de agir. É mais uma vez a Sublime Lei Universal, que a tudo preside, equilibrando o Universo em todas as situações.

E PERGUNTOU-LHE JESUS, DIZENDO: QUAL É O TEU NOME? E ELE DISSE: LEGIÃO; PORQUE TINHAM ENTRADO NELE MUITOS DEMÔNIOS.

E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome?… - A abordagem terapêutica, é preocupação não só dos seguidores de Hipócrates, mas também de todos nós, trabalhadores de boa vontade interessados no bem estar alheio.

Por isso, a todo momento devemos aprender com o Divino Mensageiro das Ciências Médicas, buscando analisar todas as Suas atitudes.

Após repreendê-lo inicialmente, como a demonstrá-lo a autoridade de que era portador; Jesus pergunta ao Espírito qual o seu nome, dando-lhe oportunidade de se identificar, mostrando ao Senhor sua posição espiritual. É que no “plano da verdade” não somos reconhecidos pelo substantivo que nos nomeia, e sim, através da vibração determinada pelas aspirações esposadas e pelo que realizamos. Ao fazer este questionamento, o Sublime Terapeuta sabia que o enfermo espiritual se retrataria - como realmente fez - por inteiro.

Outro ensinamento a observar na ação do Cristo, é a consideração do enfermo como criatura divina. É muito comum, mesmo entre nós espíritas, considerar todos estes infelizes desencarnados, simplesmente como obsessores, perseguidores, malfeitores etc.; esquecendo que todos somos filhos de Deus, e que o desequilibrado de hoje é simplesmente alguém que ferimos ontem, e que ainda não encontrou o caminho. Desta forma, ao interessar pela criatura, perguntando-lhe o nome, demonstrando carinho para com ela; valorizamo-la, colocando-a em posição receptiva para melhor apreender o que temos a observar-lhe.

Outro fator importante a considerar, é o poder do amor neutralizando todo tipo de sentimento inferior. Em qualquer ambiente, mesmo num clima de intolerância, de agressão, quando surge alguém que com este excelso sentimento, a mudança no clima se faz visível. Imaginemos portanto, qual a repercussão na imo da alma de quem quer que seja, se Ele, o Amor feito visível, vem a perguntar: qual é o teu nome?

E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios. – Legião é um corpo ou divisão do antigo exército romano constituído de infantaria e cavalaria. Figuradamente podemos entender também como multidão de pessoas ou de seres19.

Ao manifestar-se deste modo, o obsessor de Gadara revela, como já dissemos, que este processo obsessivo não é dos mais simples, pois são muitos os Espíritos envolvidos no caso.

A sentença porque tinham entrado neles muitos demônios, como já relatado20, não expressa bem o modo como se dá o processo. O evangelista ao narrar desta maneira, não retratou as palavras do obsessor, e sim, interpretou o que este disse, conforme os conhecimentos da época. A frase acha-se melhor colocada segundo a narrativa de Marcos: Legião é o meu nome, porque somos muitos; ou seja, muitos são os que vampirizam o infeliz encarnado.

O importante a observarmos nesta análise, não é o processo obsessivo em si, pelo motivo de que este não é um estudo especializado no assunto. Mas não podemos deixar de alertar para a necessidade de todos nós, principalmente os que nos dizemos cristãos, estarmos atenciosos quanto à vigilância, pois a obsessão por mais grave que seja, inicia de forma simples e sutil, vindo com o tempo, se não saneada, a se agravar a tal ponto, que passamos a ser dirigidos pelas entidades desequilibradas.

Outra interpretação que podemos fazer do texto evangélico, é que, devido à somatória das viciações adquiridas com o nosso mal proceder, durante as experiências reencarnatórias, já não é mais o nosso “eu divino” que nos dirige, e sim a legião formada pelas nossas tendências e hábitos infelizes; cabendo desta forma, fortalecermos o Cristo interior, para que este de posse de suas plenas condições, possa expulsar de nosso íntimo todos os males – demônios - gerados pela imperfeição moral.

E ROGAVAM-LHE QUE OS NÃO MANDASSE PARA O ABISMO.

E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo. – Os Espíritos, que até então comandavam, por deterem o poder magnético sobre o obsedado, reconhecem agora a autoridade de Jesus; e constrangidos, pedem, conforme define o verbo usado rogavam-lhe…

A Lei Divina gravada no íntimo de cada um, dá aos homens de todas as épocas a consciência necessária para agir corretamente, e o reconhecimento, para saber o que poderá advir-lhes caso não respeitem o que o bom senso e a razão lhes ordenar. Assim, desde tempos imemoriais, o ser humano tem o vago entendimento das regiões infernais, e de todo o sofrimento que lhe aguarda, caso não proceda de forma condizente com os seus conhecimentos morais.

abismo, citado pelos algozes gadarenos, é nada mais nada menos do que a representação destas regiões necessárias para purgação destes Espíritos ainda desajustados com a Lei. Conforme depreendemos do estudo da história religiosa da Humanidade, o homem muito sofreu por causa do pouco entendimento das questões espirituais, e assim, criou a necessidade de um inferno eterno que assustava a todos e era inconciliável com a Bondade do Criador.

Hoje de posse do esclarecimento trazido pela consoladora Doutrina dos Espíritos, aprendemos que estas regiões existem, mas são de caráter transitório, até que o Espírito compreenda o objetivo da existência e se deixe guiar pela Constituição Divina.

Quanto mais inferior é o Espírito, mais está insatisfeito com sua situação atual, com o ambiente em que se situa, e com aquilo que deve passar com o objetivo de lhe proporcionar crescimento e progresso espiritual; deste modo, os infelizes obsessores não querem estar no abismo, onde é natural que estivessem, mas em qualquer lugar que amenizassem o sofrimento que lhes seria imposto como conseqüência de suas próprias atitudes.

Do mesmo modo fazemos nós, toda vez que, ao nos depararmos com a necessidade de reajuste, abandonamos um compromisso assumido, na busca de alívio transitório.

Pois conforme nos alerta o Mensageiro da Paz, larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela…21

Busquemos assim, enfrentarmos a situação, por mais difícil que ela nos apresente; pois só aquele que não deve, tem autoridade e poder para estar aonde e com quem quiser.

E ANDAVA PASTANDO ALI NO MONTE UMA MANADA DE MUITOS PORCOS; E ROGARAM-LHE QUE LHES CONCEDESSE ENTRAR NELES; E CONCEDEU-LHO.

E andava pastando ali no monte uma manada de muitos porcos… - O porco era tido pelos judeus como um animal imundo. De tal forma que entre eles, o pior serviço e mais humilhante que existia, era trabalhar com porcos. Um exemplo disso, podemos ver na Parábola do Filho Pródigo, quando o filho tendo abandonado a casa paterna, e gasto tudo o que tinha, começou a padecer necessidadesE ele foi – diz o Evangelho – chegou a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos22; pois tinha chegado ao grau máximo de dificuldade.

A carne deste animal também era de consumo proibido entre os seguidores de Moisés, conforme vemos nos livros do Velho Testamento.

Desta forma, os porcos citados no Evangelho, simbolizam os elementos de má vida, Espíritos recalcitrantes no erro e por isto distanciados das Leis Universais. É por este motivo que Jesus, no Sermão do Monte nos alerta: …nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; não aconteça que as pisem com os pés, e, voltando-se, vos despedacem.23

E andava pastando ali no monte, uma manada de muitos porcos, nos diz o evangelista. Manada por si só já significa um grupamento de alguns animais; ao reforçar com o pronome muitos, o narrador nos faz ver que eram em um número elevado; chegando Marcos a informar que eram quase dois mil.

Esse expressivo número de porcos, levou alguns estudiosos a afirmar que esta passagem não pode ter realmente se dado; pois como que, entre um povo que não consome carne suína, poderia haver tantos animais desta espécie. Acontece, que Decápolis, onde tal fato se deu, era uma região habitada por gregos, e estes adoravam a carne de porco, fazendo com que o comércio deste animal fosse um destaque da economia local.

Em mundos como o em que vivemos, caracterizado pelo atraso moral e pela dualidade; os porcos – Espíritos vinculados à maldade – acham-se em todos os ambientes misturados com os que já optaram pelo caminho do Bem. Eles pastavam, como ainda o fazem, isto é, se alimentam, dos detritos mentais enfermiços de Espíritos, que como eles, encontram-se na retaguarda da caminhada evolutiva. Assim, mesmo estando no monte dos melhores anseios espirituais, devemos nos resguardar da intromissão deles que caminham lado a lado conosco, como o trigo e o joio que crescem juntos.

Pois não podemos esquecer, que andava pastando ali no monte, uma manada de muitos porcos.

e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho. – A concessão da Vida se dá por justiça plena. Portanto, qualquer enfermidade, seja por processo obsessivo ou sem a participação de Espíritos, quando chega a acontecer é porque existe uma causa que a alimenta. Da mesma forma, tudo que nos acontece encaminha-se assim.

Deste modo, Jesus, o Expoente Máximo da Lei Divina, concedeu aos verdugos gadarenos, que se vinculassem aos porcos por estes darem condições para que assim se fizesse.

Este modo de analisar os fatos, além de dar-nos uma segurança muito grande, fortalece-nos na fé, ajudando-nos na caminhada rumo ao progresso. É que assim raciocinando, entendemos que nada na vida se dá ao acaso; e pelo mesmo motivo, paramos de culpar os outros daquilo que nos acontece, porque compreendemos melhor a mecânica da Lei que rege o micro e o macrocosmo.

Portanto, se há dívida é permitido a cobrança; mas convenhamo-nos, se somos cristãos, para que cobrarmos, se todos somos reconhecidamente devedores do Eterno? Necessitados que somos de misericórdia, só amor nos salvará, pois todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.24

E, TENDO SAÍDO OS DEMÔNIOS DO HOMEM, ENTRARAM NOS PORCOS, E A MANADA PRECIPITOU-SE DE UM DESPENHADEIRO NO LAGO E AFOGOU-SE.

E, tendo saído os demônios do homem… - O processo de retirada dos demônios do homem, se dá exclusivamente pela ordem de Jesus. Não que tenhamos que ficar aguardando que um Mensageiro da Providência venha até nós, e em nome do Cristo, de fora para dentro, nos liberte de satã; mas que dinamizemos em nós as virtudes cristãs, e estas expulsarão em definitivo de nossa intimidade toda e qualquer ligação com os representantes do mal. Ligação esta que se dá, cultivada pelos vícios que conhecemos sob o nome de egoísmo, orgulho, presunção, ou resumidamente, imperfeição moral.

Assim, libertemo-nos do mal, pois não há o que temer exteriormente, se não possuímos algo no interior que nos ligue a ele.

entraram nos porcos… - Se, conforme vimos acima, a desvinculação dos perseguidores espirituais se dá pela vivência da virtude, a entrada deles nos porcos, isto é, naqueles que atuando no mal se comprazem nele, também é regida pela mesma lei de afinidade.

Deste modo, impossibilitados de vampirizarem os “protegidos do Cristo”, vão atuar naqueles que se fazem um em sintonia com eles. Assim, entraram nos porcos…, ou seja, vincularam-se pelo processo obsessivo, aos que ainda encontravam-se dissociados do Bem.

e a manada precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se. - Devemos analisar o acontecido sob dois aspectos: o físico e o espiritual. Classificamos desta forma simplesmente de forma didática; pois há no aspecto que chamamos de físico, componente espiritual, como do mesmo modo o inverso se dá.

No primeiro caso é de fácil entendimento o que aconteceu. Sabemos que os animais têm uma sensibilidade bastante apurada, podendo perceber coisas, que nós humanos não conseguimos. Assim, o que se deu na realidade, não foi uma entrada dos Espíritos nos porcos, mas estes percebendo a presença das entidades ligadas às trevas, se assustaram com seu terrível aspecto e precipitaram-se no lago.

Do ponto de vista espiritual, como temos buscado analisar, vemos neste versículo uma das formas em que se dá o processo reencarnatório de Espíritos ligados às regiões obscuras.

Em muitos casos, o processo obsessivo se acha arraigado de tal forma, e os Espíritos vinculados a situações tão complicadas, devido à atuação da lei de causa e efeito, que não há como fazer a desvinculação de uma maneira simples. Analisando o acontecimento, os Espíritos encarregados de atuar em favor do progresso dos envolvidos na questão, encontram na reencarnação dos obsessores o único meio de amenizar a desnecessária perseguição; pois, encarnando privilegiados pelo misericordioso esquecimento, e muitas vezes na condição de pais e filhos, o grupo espiritual encontra no amor familiar a forma de vencer as diferenças e caminharem lado a lado em favor da paz.

A expressão precipitou-se de um despenhadeiro no lago e afogou-se, explica bem o mecanismo reencarnatório.Precipitou-se de um despenhadeiro…, dá a idéia de queda; e a reencarnação mesmo sendo algo necessário para o bom encaminhamento do processo, não deixa de ser uma queda, pois tira o Espírito do mundo da verdade, e o aprisiona às formas transitórias de vida.

lago é uma extensão de água cercada de terra. A água por sua vez, por ser a origem da vida no orbe, e também por ser o líquido que envolve o feto no ventre materno, simboliza muito bem a volta do Espírito à vida material. Afogar-se é morrer por submersão na água; assim, podemos entender como perder a vida espiritual – pois reencarnar é que realmente pode ser entendido como morrer – e retomá-la em outra faixa vibratória.

Desta forma, fica claro, ao permitir aos cruéis perseguidores, o desligamento do infeliz gadareno, e sua vinculação a Espíritos ainda mais complicados, e, consequentemente, o afogamento destes no lago; o Psiquiatra Divino na realidade fez foi autorizar a reencarnação em massa de tais Espíritos, como sendo o tratamento desobsessivo mais eficaz naquele momento.

É por essa e por outras, que podemos seguramente afirmar ser o Espiritismo o Consolador prometido por Jesus; pois só esta Doutrina é capaz de explicar de forma lógica e racional o Evangelho do Cristo e a atuação da Lei Máxima da Vida.

E AQUELES QUE OS GUARDAVAM, VENDO O QUE ACONTECERA, FUGIRAM E FORAM ANUNCIÁ-LO NA CIDADE E NOS CAMPOS.

E aqueles que os guardavam, vendo o que acontecera… - Aqueles que os guardavam, eram os que apascentavam ou tomavam conta dos porcos. Não eram propriamente os donos dos animais, mas os que cuidavam deles.

Podemos nos dias de hoje, dizer que estes representam todos os que cuidam simplesmente dos bens transitórios. Trabalham não pelo prazer de realizar ou de servir, mas visando exclusivamente os interesses imediatistas.

A análise da expressão aqueles que os guardavam, nos dá segurança para fazermos tal raciocínio; porque,aquelesguardavam os porcos, ou seja, acolhiam em sua intimidade todo tipo de interesse escuso.

A presença do Cristo em qualquer ambiente, seja externo ou principalmente no íntimo de cada um, provoca mudanças de alto valor moral, contrariando assim, todos os interesses particularistas; pois a prática evangélica, é sempre, em todos os sentidos, voltada para o bem estar geral e para os valores imperecíveis, só entendidos e compreendidos pelo sentido espiritual.

Desta forma, a sentença o que acontecera, significa a mudança realizada no íntimo de todos aqueles que aceitam a Boa Nova como direcionadora de suas atitudes.

fugiram e foram anunciá-lo na cidade e nos campos. - Após o acontecido, e temerosos do que podia advir-lhes por causa do prejuízo tomado pela morte dos animais, os porqueiros foram anunciar na cidade e aos donos dos animais, o fato.

Anunciar é transmitir a notícia, e não, participar dela. Isto mostra que eles não realizaram em si a reforma cristã, mas ao contrário, divulgaram-na de forma pejorativa, visando prejudicar o andamento das coisas. Pois anunciaram nas cidades, ou seja, no centro dos interesses comerciais; e no campo, representando assim, a intimidade dos que faziam daquele lugar, região árida e de espinheiros, não só físicos, mas também sob o ponto de vista espiritual.

A atitude verdadeiramente cristã muitas vezes contraria nossos interesses mais imediatos; deste modo, usando a liberdade interpretativa que os textos evangélicos nos proporcionam, habitualmente justificamos nossos posicionamentos indevidos com a letra dos textos sagrados, nos tornando assim, cristãos sem o Cristo. Atentemos para esta realidade, e nos façamos vigilantes, para que no dia de amanhã, não venhamos a ser comparados com os apascentadores de porcos de Gadara, pois na realidade a posição é a mesma.

E SAÍRAM A VER O QUE TINHA ACONTECIDO E VIERAM TER COM JESUS. ACHARAM, ENTÃO, O HOMEM DE QUEM HAVIAM SAÍDO OS DEMÔNIOS, VESTIDO E EM SEU JUÍZO, ASSENTADO AOS PÉS DE JESUS; E TEMERAM.

E saíram a ver o que tinha acontecido… - A curiosidade é regra geral no comportamento da humanidade em geral. Basta acontecer um fato não muito comum, para que homens e mulheres se aglomerem e inicie falatório sobre a questão. Quantas vezes notamos, quando da ocorrência de um acidente ou qualquer fato desagradável, imensidade de pessoas a rodear o acontecido, mas sem a mínima disposição e condição para auxiliar verdadeiramente?

Mesmo entre os Espíritas é bastante rotineiro a procura da mediunidade curadora ou desobsessiva, mas somente na busca de fenômenos a serem analisados, pouco importando àqueles que os buscam, a conseqüência moral que pode advir do acontecimento.

Assim agiram os elementos daquela cidade, saíram a ver o que tinha acontecido, mas pelo simples fato de bisbilhotar sobre o maravilhoso, ou ainda, de contabilizar os prejuízos materiais que o acontecimento proporcionara; não deixando desta forma, que a ação realizada por Jesus encontrasse ressonância no íntimo de cada um.

e vieram ter com Jesus. – Os Espíritos responsáveis pela direção espiritual das criaturas e dos planetas, conhecem o processo evolutivo dos homens, até porque também já passaram por esta etapa; desta maneira, permitem que os fatos ditos sobrenaturais aconteçam, porque assim conseguem despertar seus tutelados para as Verdades Eternas. Portanto, a curiosidade que citamos anteriormente, pode ter seu aspecto positivo, porque em saindo para ver o acontecido, podemos deparar com a oportunidade de ter-nos com Jesus…

Muitos são os que, em estando com Ele, mudaram radicalmente suas histórias evolutivas, encontrando no Caminho traçado pela Vivência Evangélica, a Verdade que conduz à Vida, libertando-os assim de todo e qualquer sofrimento.

Deste modo, é preciso estarmos atentos à condição que a Vida nos proporciona, pois podemos ver em cada situação uma oportunidade de estarmos com o Cristo, e assim nos libertarmos; ou, em passando por Ele, não O reconhecer, e adotarmos direção oposta à nossa felicidade plena.

Acharam, então, o homem de quem haviam saído os demônios… - Aquele que procura acha; portanto é imperioso avaliarmos o que estamos procurando, porque é exatamente isto que acharemos.

Os demônios já analisamos; é pois todo aquele que se opõe de qualquer modo, às sábias Leis de Deus.

O homem é fruto de um processo evolutivo. Todas as conquistas realizadas por ele, são desta maneira, fruto de esforço e trabalho, que muitas vezes levam séculos para se efetivarem. Portanto, o fato de despirmo-nos dosdemônios, é atitude que revela progresso em termos espirituais; mas para que tal fato se dê forma definitiva é preciso adotarmos o programa estabelecido pelo Rabi Galileu, pois Ele é a Verdade Plena vinda diretamente do Criador.

Quando o Evangelho diz da faculdade de afastar demônios que tem o Cristo, quer justamente mostrar o poder que adquirimos quando em sintonia com Ele.

Assim, quando esperançosos tivermos, aguardando que Jesus realize a maravilha de nos libertar do mal, lembremos que Ele por Sua vez, espera de nós o mais simples milagre, o de aprendermos a Amar.

vestido e em seu juízo… - Juízo é sinônimo de ponderação, de bom senso. É a faculdade de enxergarmos as coisas como elas realmente são. Aquele que está sem juízo vive portanto, fora da realidade.

Podemos com toda segurança afirmar, que em verdade, só existe o que foi criado por Deus, sendo tudo o que não veio Dele, de caráter transitório. Deste modo, só o Bem é real, sendo tudo o que lhe opõe, mera fantasia.

Estar em seu juízo, é enxergar as coisas desta forma, e consequentemente agir do mesmo modo. Isto quer dizer que, toda vez que contrariamos os desígnios divinos, estamos fora do juízo normal. Assim estava aquele homem de Gadara; o que o Divino Médico fez, foi trazê-lo de volta à Verdade Única da Vida, que é a pratica do Bem.

E notamos que, fora do juízo, ele apresentava-se sem as vestes. O vestido é a nossa aparência exterior. Para estarmos em equilíbrio, devemos estar exteriormente de acordo com o interior; isto em se tratando do Espírito é a perfeita harmonia com a Verdade Cósmica.

Desta forma, estar vestido, é aparentar-se em equilíbrio; harmonia esta que só o Cristo interiorizado pode dar.

Assim acharam aquele homem; vestido e em seu juízo…

assentado aos pés de Jesus… - O  é a base, é a parte que dá sustentação ao corpo. Se não tivermos bem apoiados, não conseguimos nos sustentar, e consequentemente, caímos.

Deste modo podemos inquirir-nos: o que eram os pés de Jesus? Ou em outras palavras, o que Lhe dava sustentação?

Podemos sem medo de errar, afirmar que era a Lei Divina. Ele mesmo dissera, não ter vindo para realizar a Sua vontade, mas a do Pai que o enviou; dizendo mesmo que o Seu alimento era fazer a Vontade do Criador. Era, dizendo de outro modo, o Perfeito Médium de Deus, sendo assim a expressão máxima das Leis Eternas.

A posição assentado, denota conforto, tranqüilidade, segurança. Estar assentado aos pés de Jesus, é estar estruturado na Sua doutrina, que nada mais é que a Vontade de Deus ou Sua Lei. Desta forma, ao encontrarmos o ex-obsedado assentado aos pés de Jesus, notamos que ele realmente atendeu ao chamado do Mestre, estando assim livre dos Espíritos que o influenciavam.

É imperioso meditarmos nos ensinamentos evangélicos; e se quisermos nos libertar em definitivo de qualquer tipo de escravidão assentarmo-nos aos pés Dele, isto é estruturarmo-nos em seus ensinamentos.

e temeram. – Temer é ter medo. Muitas são as causas que nos levam a este sentimento; entre elas podemos destacar a insegurança, a falta de conhecimento, a culpa, entre outras.

O homem comum criou seu estado de segurança ligado às posses de bens materiais, assim, busca ele acumular no afã de estar mais protegido. A vida em vários de seus aspectos tem mostrado quanto enganosa é esta posição, pois quanto mais possui, maior é a escravidão às posses, e consequentemente, maior o temor, devido a transitoriedade dos valores mundanos.

Portanto, fica claro que a única segurança que realmente existe, está em Deus; sendo o Cristo, o caminho que nos leva a ela, porque vai contra tudo que é simplesmente material e personalista.

Os habitantes da cidade escolhida por Jesus para a veiculação deste ensinamento que ora estudamos, tinha também supervalorizado às questões materiais; e, ao ver que Jesus se opunha a seus interesses, e o poder que tinha Ele, temeram; pois não estavam preparados para o Fato Novo que Ele representa na vida de cada um.

E OS QUE TINHAM VISTO CONTARAM-LHES TAMBÉM COMO FORA SALVO AQUELE ENDEMONINHADO.

E os que tinham visto contaram-lhes também… - A multidão estava perplexa com o acontecimento, saíram todos às ruas para certificarem-se do prodígio realizado por Jesus. Aquele infeliz que anteriormente era influenciado pelo demônio, como diziam, não mais assustava as pessoas, seria inacreditável se não pudesse ser comprovado pela visão. Portanto os que assistiram a cura trataram de contar aos que não tiveram a oportunidade de ver, o que realmente tinha se dado. Entretanto, como é de costume entre os homens, nem sempre a realidade é retratada com fidelidade quando da divulgação de um fato. Cada um procura ao seu modo, segundo sua condição evolutiva, dar um caráter particular à situação. Deste modo, inicia-se a deturpação da mensagem, e os que escutam não têm condição de averiguar a questão de forma correta.

A história da Humanidade tem sido pródiga em nos mostrar acontecimentos, que devido a invigilância das criaturas têm sido modificados, não podendo assim, terem o efeito que poderia esperar-se.

O próprio Cristianismo é uma prova concreta do que estamos falando. Raríssimos são os que se dizem cristãos, e conseguem manter a simplicidade e a essência da mensagem trazida pelo Meigo Rabi da Galiléia, desfigurando Sua doutrina de amor, em favor de interesses particulares que contradizem em tudo os ensinamentos do Excelso Mestre.

Ao contarmos também aos outros o que o Cristo ensinava, não desqualifiquemos Sua mensagem com nossas atitudes impróprias, pois conforme Ele mesmo ensinou, todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.25

como fora salvo aquele endemoninhado. – Salvar é tirar do perigo ou da perda total.

Na vida o que coloca as criaturas em perigo ou perda, é o afastamento destas das Leis Imutáveis criadas por nosso Pai. Jesus nos diz ser o Caminho, a Verdade e a Vida, e que ninguém irá ao Pai senão através Dele.

Essa afirmativa do Inesquecível Pastor, tem levado inúmeras pessoas a afirmar que só o Cristo salva, o que é uma realidade; mas o que não pode deixar de ser compreendido, é que Jesus externamente falando, nada pode realizar em nosso benefício se não tiver o acatamento de nossa vontade. Desta forma, melhor dizendo, queremos afirmar, parafraseando os que assim o dizem: só o Cristo interiorizado e plenamente vivenciado Salva.

Como fora salvo aquele endemoninhado? Jesus ordenou que o Espírito obsessor se retirasse dele, conforme narrativa dos próprios evangelistas. Mas o mesmo Evangelho nos alerta que:

quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: voltarei para a minha casa de onde saí. E voltando-se, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros…26

Assim, compreendemos que, para efetivar a salvação é necessário que nos livremos do mal, mas para que isto se dê, é imperioso substituí-lo pelo Bem.

E TODA A MULTIDÃO DA TERRA DOS GADARENOS AO REDOR LHE ROGOU QUE SE RETIRASSE DELES, PORQUE ESTAVAM POSSUÍDOS DE GRANDE TEMOR. E, ENTRANDO ELE NO BARCO, VOLTOU.

E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles – A vida cotidiana no plano de evolução em que nos situamos nos coloca habitualmente em situação de dubiedade. Se por um lado já somos conhecedores das verdades imorredouras, e até as divulgamos; por outro, constantemente somos atraídos por forças da retaguarda ainda ligada às questões transitórias.

Ao deixarmos que a multidão de vícios cresça na terra de nossa intimidade, aproximamos em características, daquela definida nos Evangelhos como terra dos gadarenos; ou seja, árida e em que só os espinhos e cardos medravam. Esta condição não permite que cresça em nós a atração pelas forças cristãs, pois à medida que nos aproximamos dos valores materiais, nos afastamos dos espirituais; e, crescendo em nós tais necessidades, somos, pela Virtude disseminada pelo Divino Pastor, incomodados, e assim, rogamos a Ele que se retire de nós, aprofundando ainda mais nossas dificuldades e sofrimentos.

Deste modo, façamos uma avaliação do que realmente importa à nossa condição de Espíritos imortais, e deixemos que ao redor de nós mesmos só aja espaço para o Bem, porque o que é realmente preciso, não é que Ele se retire do ambiente em que nos movimentamos, mas que ao contrário, o Cristo de Deus, esteja constantemente dentro de cada um de nós.

porque estavam possuídos de grande temor. – A expressão estavam possuídos nos dá a entender uma condição negativa, porque estar possuído é ser completamente dominado por algo.

Desta forma, só somos possuídos por algo que nos escraviza ou aprisiona.

Jesus é o grande Libertador da Humanidade. Sua Boa Nova, por esclarecer a alma, torna-a livre de toda a condição inferior. Mas por sermos ainda bastante recalcitrantes, não são poucas as vezes em que, esquecendo do quanto é bom ser um liberto do Cristo, tornamo-nos escravos de necessidades só criadas por nós mesmos; e como elas nos conduzem a uma rápida ascensão e uma queda ainda mais ligeira, somos possuídos de grande temor.

E, entrando ele no barco, voltou. – A condição superior de Jesus, dá a Ele, um perfeito domínio sobre a questão do tempo. Assim, tem, o Príncipe da Paz, tranquilidade suficiente, para saber que não compreendendo ainda a Verdade por Ele trazida à Terra, os habitantes daquela cidade não seriam tocados pela beleza do Seu verbo, mas deixa em seus corações a semente que, adubada pelo sofrimento vindouro, num espaço de tempo próprio daria os frutos necessários.

Deste modo narra o evangelista que, entrando ele no barco voltou…, nos ensinando sempre que o eterno dinamismo daqueles que se propõem a ser co-criadores num plano maior é uma necessidade. Não encontrando mais naquelas terras ambiente propício à divulgação da Divina Mensagem, havia outras tão necessitadas quanto, que mereciam Sua visita.

Outra lição que depreendemos desta atitude do Mestre, é que é imprescindível estarmos sempre envoltos em boa faixa vibratória. No início desta passagem, Ele desceu para a terra, mostrando-nos a necessidade de atuarmos na faixa de necessidade das criaturas; entretanto, não podemos deixar a base que nos dá sustentação, tornando assim, imperioso entrar no barco que dá segurança, e voltar ao plano de harmonia íntima, de abastecimento das energias superiores.

E AQUELE HOMEM DE QUEM HAVIAM SAÍDO OS DEMÔNIOS ROGOU-LHE QUE O DEIXASSE ESTAR COM ELE; MAS JESUS O DESPEDIU, DIZENDO:

E aquele homem de quem haviam saído os demônios… - Aquele homem é um homem definido, não é qualquer um. Ser homem já é uma vitória em termos de processo evolutivo; tornar-se aquele homem destacado pelo Sublime Amigo é triunfo ainda maior. Houve um processo de seleção a que ele adaptou-se, pois dele jáhaviam saído os demônios, isto é, toda e qualquer ligação com as forças inferiores do mundo.

Este é o momento em que reconhecendo transitoriedade das ilusões que salteiam o plano dos nossos desejos, abrimos o coração para o Verbo Divino e buscamos nos aquecer em Seu Amorável Regaço.

Mas para que tal fato se dê e nos efetivemos nas conquistas superiores, torna urgente além da vigilância, a perseverança no Bem; pois a treva é sempre persistente, não perdoando qualquer ligação que fazemos com as forças contrárias da Vida, ou qualquer recaída que seja.

… rogou-lhe que o deixasse estar com ele… - Rogar é mais do que pedir, é pedir com insistência. Quando de nossa parte acontece esta rogativa – a de pedir ao Mestre para estar com Ele - , é um sinal de acolhimento do caminho traçado pelo Celeste Pastor. O ato de suplicar estar com o Cristo é superior, porque além de demonstrar o plano de segurança a que estamos nos ajustando, mostra por sua vez a inconformação com nosso estado anterior, pois não rogamos simplesmente que Ele esteja conosco, mas dá a entender que estamos dispostos a estar com Ele. Ação que denota entendimento e boa vontade.

Fazendo desta forma, a ex-vítima do mal dá a conhecer sua mudança de atitude, fazendo assim por merecer dias melhores.

… mas Jesus o despediu, dizendo: - O trabalho em nome do Cristo é prioritário e urgente. Acontece que ao iniciarmos nas lides evangélicas, apesar de rogarmos qualquer tipo de serviço, nem sempre nos adaptamos às necessidades, impondo muitas vezes determinadas companhias, certos tipos de tarefas, ou a tranquilidade total de nossas vidas, para que assim possamos servir ao Criador.

Ao rogar a Jesus estar com Ele, o Mestre o despediu, dizendo… É que a Vida sempre responde às nossas súplicas, mas nem sempre do modo que gostaríamos que fosse. Desta forma, ao rogar paz, somos colocados diante de criaturas que nos são desafetos; mas como ter paz se ainda temos resgates a realizar?

Ao pedir saúde, somos defrontados por aqueles a quem amamos sofrendo males inenarráveis; porém, como alcançar o equilíbrio perfeito, se ainda desajustamos aqueles que mais confiaram em nosso proceder?

Portanto, ao rogar estar com Ele, é preciso estar disposto a Servir; e, se o significado deste verbo é ser útil, prestar serviço; com o Cristo, sua prática é, a qualquer pessoa, onde quer que estejamos; ou ainda, aonde e com quem se fizer mais necessário.

Por isso Jesus o despediu, dizendo:

TORNA PARA TUA CASA E CONTA QUÃO GRANDES COISAS TE FEZ DEUS. E ELE FOI APREGOANDO POR TODA A CIDADE QUÃO GRANDES COISAS JESUS LHE TINHA FEITO

Torna para tua casa… - No estado evolutivo em que estamos, o amor tem suas gradações. Assim temos; amor filial, amor maternal, amor entre amigos ou ainda amor às plantas, aos animais etc.

Se é dever cristão amar aos inimigos, então, com que sublime amor não devemos amar aos amigos?

Ao dizer ao mais novo candidato a seu apostolado: torna para tua casa, Jesus convida-o ao atendimento daqueles que lhe estão mais próximos, aos compromissos mais imediatos. Antes de desejarmos missões maiores, é preciso cumprir as “menores”, pois só quem é fiel no pouco, mostra capacidade de também ser no muito.

Portanto, toda vez que nós, discípulos da última hora, desejarmos servir em nome do Cristo, é preciso avaliar como temos cumprido nossa missão com os entes mais próximos: filhos, cônjuge, ou ainda, pais, irmãos, companheiros de trabalho etc.

Outro ensinamento que podemos depreender destas palavras do Mestre, é quanto ao auto conhecimento.

Tornar para tua casa, é voltar para sua intimidade, conhecer a si mesmo. Para atender ao Serviço cristão, urge saber de nossas deficiências, ver até onde podemos ir, melhorarmo-nos naquilo que não estamos bem. Pois se é de bom alvitre fazermos o Bem e bem, onde quer que estejamos; com que carinho então não devemos nos dedicar a Ele, que é o Amor em sua forma mais sublime?

… e conta quão grandes coisas te fez Deus. – Reconhecer a grandeza do Criador e quão grandes coisas tem feito Ele em nosso favor, é o mínimo que podemos fazer em nosso momento atual.

Desde a nossa Criação, até as perfeitas condições de desenvolvermos nossos sublimes potenciais, tem Ele nos amparado com todos os recursos. Assim, reconhecermo-nos eternos devedores do Todo Sábio é atitude que indica compreensão e humildade.

Contar é narrar, relatar. Diz-se que é um bom narrador, aquele que conta bem contado, que faz os outros entenderem aquilo que ele expõe. Para contar as coisas que Deus tem feito a nosso favor, temos que fazer da melhor maneira possível, até porque, Ele tem feito de forma sábia e perfeita.

Portanto, contar aos outros quão grandes coisas tem o Criador feito por nós, é agirmos de acordo com Suas magnânimas leis, que por ser só Amor, só amor compreende. Assim, façamos da melhor maneira e com carinho tudo o que tivermos que fazer; usemos de compreensão para com todas as criaturas; amemos aos nossos semelhantes, inclusive àqueles que ainda nos fazem “mal”. E deste modo, só assim, estaremos contando aos outros quão grandes coisas tem feito Deus em nosso favor.

E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito. – E elecompreendeu assim a essência da mensagem de Jesus; foi apregoando, isto é declarando em público, divulgando; e por ser destacado pelos evangelistas, deve-se entender divulgando a Boa Nova, com os exemplos. Por toda a cidade, ou seja, com todos os que o encontrava, os mais necessitados e os mais intolerantes. Quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito. Quando assimilamos a Mensagem do Cristo, realizamos enorme bem a nós e aos outros, visto que, nos libertamos de todo o mal para todo o sempre. E diante de tudo isto, também realizamos maravilhas, a ponto de, como nos informa o evangelista Marcos, as outras pessoas se maravilharem.

… porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá e há de passar; e nada vos será impossível.27


 

1 Mateus, 8: 28 a 34

2 Marcos, 5: 1 a 20

3 Lucas, 8: 26 a 39

4 Dicionário da Bíblia pág. 247

5 Primícias do Reino pág. 122

6 Marcos, 16: 15

7 Mateus, 28: 20

8 Marcos, 2: 17

9 Ver O Livro dos Espíritos questão 625

10 Marcos, 13: 33

11 Pensamento e Vida, pág. 126

12 Porque Adoecemos, pág. 127

13 Obreiros da Vida Eterna, pág. 231

14 Mateus, 8: 29

15 Grilhões Partidos – Prefácio item 3

16 Mateus, 18: 7

17 Mateus, 10: 34

18 Mateus, 5: 29

19 Dicionário Aurélio.

20 Ver comentário sobre o versículo anterior.

21 Mateus, 7: 13

22 Lucas, 15: 15

23 Mateus, 7: 6

24 Mateus, 26: 52

25 Mateus, 12: 31

26 Mateus, 12: 43 a 45

27 Mateus, 17: 20