I Tessalonicenses, 1: 1 a 5

Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus Cristo: graça e paz tenhais de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

Por volta do ano 50 de nossa era, já em franca atividade apostólica, Paulo, o fiel amigo dos gentios, se vê diante da seguinte dificuldade: a expansão das comunidades por ele fundadas crescia e com o crescimento surgiam dificuldades para o bom andamento da divulgação do Evangelho. Sua presença era sempre solicitada entre os novos seguidores do Cristo, e ele já não dava conta de atender à solicitação de todos como gostaria.

Após uma sentida oração percebeu-se envolvido pela presença espiritual do próprio Jesus que buscando tranquilizá-lo inspira-o a mudar a forma de assistência aos queridos seguidores.

Conforme anotações de Emmanuel, o Senhor o orienta com brandura:

Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome… (…) doravante Estevão permanecerá mais aconchegado a ti transmitindo-te meus pensamentos, e o trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das necessidades do mundo.1

Deste modo, o Apóstolo convidou Timóteo e Silas, aqui chamado de Silvano, para juntos redigirem a primeira de suas importantes epístolas.

Paulo escreve esta sua primeira epístola em Corinto, por volta do ano 50 ou 51 de nossa era. Esta carta tem importância histórica, pois provavelmente é o primeiro documento escrito do Novo Testamento.

Emmanuel2 relata que por volta do ano 34 ou 35 d.C. os seguidores do Cristo tinham um manuscrito de Mateus onde consultavam os ensinamentos de Jesus. Porém os historiadores informam-nos que o Evangelho de Mateus conforme temos hoje, em sua forma narrativa, é de composição mais tardia. O texto a que Emmanuel se refere deve ser um primeiro Evangelho escrito por Mateus em aramaico (ou hebraico); o atual foi escrito em grego. Mais tarde Mateus teria composto um novo texto, inclusive com influência do texto de Marcos que segundo os estudiosos é anterior.

Estas cartas, escritas por Paulo, foram produzidas por um método que alguns autores denominam de círculos de profecia, que consistia em uma meditação por parte do apóstolo e de seus companheiros, em que Paulo, concentrado, recebia por inspiração as palavras e estas vinham naturalmente e eram faladas em voz alta e anotadas. Há desde aqui, e mesmo bem antes, pois alguns estudiosos informam-nos que desde Samuel os textos sagrados eram produzidos desta forma, uma identidade com o que hoje os espíritas chamam de produção mediúnica; um medianeiro recebe o texto dos espíritos – que aqui era o de Estevão representando o próprio Jesus -, e o transmite aos assistentes pela palavra oral (psicofonia) ou escrita (psicografia).

Estes eram os dons espirituais que o apóstolo iria aprofundar e tornar claro mais adiante em outras epístolas.

Importa-nos ainda nesta saudação vermos como o fiel divulgador do Evangelho diferencia Deus, o Pai, do Senhor Jesus Cristo. Para Paulo é clara a distinção, Deus e Jesus são figuras distintas, um é o Criador, conforme Atos, 17: 24, o outro, Jesus, era o Cristo, ou Messias, o Filho enviado por Deus para remir a humanidade que se encontrava em erro e sob o jugo do mundo, conforme Gálatas, 4: 3 a 5.

Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações,lembrando-nos, sem cessar, da obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai…

Paulo vem nos mostrar aqui, e também vamos notar através do estudo de outras cartas, a relação de afeto existente entre ele e os cristãos de todas as comunidades por ele fundadas, lembrando o ensinamento maior do Mestre:

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.3

Nesta relação afetuosa Paulo lembra sempre de seus amigos em Cristo seja em suas preces, nas orientações, ou, até mesmo, quando precisava, nas repreensões visando a correção de algo que não estava correto dentro da proposta de fidelidade ao Evangelho.

Fazendo hoje uma necessária reflexão sobre este ponto aqui comentado, devemos analisar, como tem sido a nossa convivência e a nossa relação com os divulgadores atuais do Evangelho? Temos cultivado este sentimento de afeto e de amor que o Mestre disse ser o diferencial daquele que fosse seu seguidor?

O apóstolo cita aqui a “obra da fé” dos cristãos de Tessalônica, tema este que será devidamente trabalhado por ele em outros textos, principalmente na Carta aos Gálatas e aos Romanos, em contraposição com as obras da lei. E destaca ainda o trabalho da caridade, e da paciência da esperança, temas também recorrentes em outras epístolas e que para ele têm importância fundamental, pois além de serem compreensões básicas para o perfeito entendimento da Mensagem de Jesus, foram essas a orientações que deu a ele o Espírito Abigail, quando num momento de desdobramento espiritual a esferas mais elevadas, esta alma querida de seu coração disse-lhe:

Ama, trabalha, espera, perdoa…4

A partir daí este que seria para ele o “lema de Abigail” seria guardado para sempre como instrução divina para a sua edificação em Cristo Jesus.

Caridade é para ele o amor dinamizado pelo trabalho; esperança é fator essencial para a iluminação dentro da proposta evangélica, pois além de germinar a paciência, promove também a perseverança que é virtude sempre trabalhada por ele através da orientação de fortalecimento da fé.5

sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus; porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós.

A eleição de Deus se dá quando o Espírito que recebe a orientação ou a revelação do Alto, transforma-se operacionalizando a informação recebida, ou seja, transformando-a em virtude através do testemunho no bem.

Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.6

Podemos, interpretando estas palavras de Jesus, dizer que, todos somos chamados pelo Senhor da Vida a, na pauta de nossas obrigações, realizar o melhor em comunhão com o objetivo essencial da vida que é a autorrealização. Quando em acordo com as Leis Universais realizamos, encerramos um ciclo evolutivo, tornando-nos assim “eleitos” ou “escolhidos” dentro daquela faixa de realizações.

Aqueles que acolheram a mensagem da Boa Nova em Tessalônica, tiveram muitos testemunhos a dar diante dos Judeus que naquele momento não compreenderam a superioridade da mensagem de Jesus. Por terem sido grandes as dificuldades encontradas pelos habitantes desta comunidade para vivenciar as lições do Evangelho, Paulo os escreve dizendo que a eles o Evangelho não foi somente em palavras, mas também em poder, isto é, em autoridade conferida àquele que é provado no testemunho e neste se promove a uma condição melhor em matéria de espiritualidade.

Espírito Santo é o espírito que se santificou através deste processo evolucional, processo este que dá a certeza do valor conquistado, por isso Paulo pôde dizer que estes eram irmãos aos quais a eleição foi de Deus, e completa a exposição dizendo que tudo foi feito entre eles, com muito amor. O apóstolo amou os novos seguidores, estes o receberam com o mesmo afeto e também o amaram sobremaneira. Tudo conforme a orientação de Jesus a quem Paulo foi sempre fiel:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.7

1 Paulo e Estevão, pág. 529

2 Paulo e Estevão, Op. cit.

3 João 13:35

4 Cf. Paulo e Estevão, págs. 381 e 382

5 Este tema será aprofundado na 1ª Carta aos Coríntios.

 

6 Mateus 22:14

7 João,13: 34